terça-feira, 25 de julho de 2017

Deserto do Atacama | parte I

"Eu sempre amei o deserto. A gente senta numa duna de areia. Não se vê nada. Não se sente nada. E no silêncio alguma coisa irradia". O pequeno príncipe.

Saímos às 8:05 da manhã de São Paulo para Santiago, no Chile. Chegando lá, ao passarmos pela imigração, despachamos novamente a bagagem no embarque nacional para voarmos até Calama, aeroporto mais próximo de São Pedro do Atacama - a cidade que acolhe os transeuntes, que como Amanda e eu, se arriscam a lidar com as mais variadas temperatura e paisagens, que só a complexidade do deserto é capaz de pintar.

A Amanda é uma dessas gratas surpresas da vida - quando eu pedi demissão pela 1a. vez no meu último trabalho - e de novo (saí só na 4a. conversa de "acho que não estou mais feliz nessa relação") - ela tinha acabado de assumir a gerência da área em que eu trabalhava e com muita transparência, vulnerabilidade e confiança, teve um papo bem reto comigo, do tipo "cala a boca e rema". Assim, doce, #sqn, tomei um susto de que ainda tinha muito o que fazer ali e que apesar da pouca poesia dela, tive certeza de que seria uma liderança necessária para meu amadurecimento e aprendizado.

Desde este dia, ela se tornou uma referência de competência sem arrogância, de escuta com orientação e de foco com olhar para desenvolvimento e uma irritante humildade de não se reconhecer tudo o que é.  Dos dias trabalhados em diante, ela foi deixando de ser chefe, passou a ser mentora e, depois do Atacama, uma amiga para todo o sempre.

Nós, então, nessa energia de experimentar o meio do nada, que apreciávamos já da janela do avião, desembarcamos em Calama e o traslado - que diferença, Filipinas! - nos esperava com a plaquinha de identificação, pronto para nos dirigir por uma hora e meia, em uma estrada de linha reta, com momentos de curvas, mas não tão sinuosas, contornada por montanhas marrons e planície cascalha, acompanhada de um céu azul claro, mas forte, com poucas nuvens, que nos conduziu, como personagens em um cenário inenarrável, até São Pedro do Atacama.

Ao chegarmos no hotel, tomamos banho e, famintas, encontramos, sem querer, andando a esmo, o Lola - bar e restaurante - que era na verdade mesmo um karaoke! Bebemos vinho tinto acompanhado de uma "empanada gigante" de camarão com vinho branco, fizemos amigos - brasileiros, é claro - cantamos "baile de favela", como se estivéssemos n'algum boteco do Brasil, dançamos no palco com o Danilo - donde estás Danilo? - e voltamos para o hotel, quase madrugada, sem saber se era frio ou histeria.

No dia seguinte, acordamos até que cedo, para a animação festiva da noite anterior, tomamos café e fomos caminhar pela rua central, Caracoles; ver os artesãos, trocar dólares por pesos chilenos e comprar os passeios.

O dia estava lindo, com céu azul e sem nenhuma nuvem, a lua aparente e bela; até que entramos para buscar informações de tours, quando o francês que nos atendeu perguntou se já tínhamos ideia do que fazer. 

Orgulhosas de termos feito o dever de casa, porque lemos bastante e conversamos com várias pessoas que tinham vindo ao Atacama, mostramos nosso roteiro e o gringo começou:
- Salar de Tara? Fechado!
- Geysers del Tatio? Fechado! 
- Pedras Rojas? Fechado!

Juro! A decepção não foi nada discreta: Amanda e eu nos olhamos é só pudemos dizer: "que merda, hein?". E a explicação dele foi que havia caído muita neve nas duas últimas semanas e os acessos estavam fechados, por segurança - curioso que ninguém nos havia sinalizado deste risco, nem mesmo lemos nos blogs que a temporada não era das melhores.

A parte boa desse imprevisto pouco agradável foi que logo me empolguei com a possibilidade de conhecer lugares ainda pouco vistos, pelos quais estaríamos abertas a sermos surpreendidas, sem  que tivéssemos lido os scripts padrão - afinal, "um bom viajante não tem planos fixos nem tão pouco a intenção de chegar" (Lao Tzu).

Caminhando ainda pela Caracoles, esperando a tarde chegar para nosso primeiro passeio, achamos a agência que faz o Tour Astronômico, com a qual eu já havia pré-reservado por email, e precisaríamos pagar para confirmar. Embora nossa reserva fosse pr'ali dois dias, o agente sugeriu que fizéssemos naquele dia, porque havia confirmação climática positiva - o que ele não poderia garantir para os próximos dias, pois a previsão era de neve. Assim, garantimos a vaga das 21 horas para apreciar as estrelas e todo aquele universo a olhos nu.

Com nova energia, almoçamos - eu, um salmão acompanhado de batatas e creme de cenoura com coco ralado; a Amanda, um frango grelhado com cebolas caramelizadas, ovos e batatas rústicas - para então experimentarmos do roteiro não planejado: Laguna TebiquincheOjos del Salar.

Pegamos uma estrada até Toconao, comunidade da vizinha São Pedro, similar ao caminho do aeroporto, mas os Andes pareciam mais próximos e maiores, como se fossem pétit-gateus gigantes, super polvilhados por açúcar refinado: belíssimos! 

Em Toconao, caminhamos por 45 minutos pelas ruínas de rochas vulcânicas e um oásis, composto por árvores muito distintas umas das outras, inclusive frutíferas (pêra, laranja e figo), um rio de águas do degelo dos Andes e muita sombra, que trazia bastante frescor, em meio ao clima seco e quente do deserto: conhecemos o tal do microclima, ali.

Dali partimos de van por mais 45 minutos para relaxar na Laguna Tebinquinche, uma das paisagens mais lindas em que já pude estar e que, com o céu claro, sem vento, as nuvens pareciam algodões em seu lugar, dispostas apenas para serem contempladas. 

No pôr-do-sol, o rosa era quase choque, e o laranja, solar. O lago era um espelho límpido e natural, sem refletir qualquer falha, qualquer dúvida de imagem. E, antes que chegássemos até ali, avistamos dois outros lagos de água doce no meio do nada, tirando quase todo o fôlego já comprometido pela altitude.

Para um primeiro dia iniciado com um sobressalto, o inesperado-esperado do que só o deserto pode criar se fez ainda mais belo. Aliás, “o que torna belo o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar.” (Saint-Exupéry)



terça-feira, 18 de julho de 2017

Não acaba o que não tem fim | Filipinas

"Dificuldades preparam pessoas comuns para destinos extraordinários." (C.S. Lewis)
A saída de El Nido foi muito feliz: depois de Shimizu Island, ainda paramos por uma hora e meia em Seven Commando Beach - uma praia simpática, com coqueiros e algumas cabanas que finalmente deram sombra - onde pude, então, relaxar, admirar por completo toda aquela experiência e me despedir de uma das viagens mais incríveis que pude vivenciar. 

Quando cheguei de volta ao hotel, tinham me trocado de quarto, para um melhor, pelo mesmo preço - tentei entender o porquê, mas não consegui: importante mesmo foi que no meu último dia tomei o melhor banho e deitei na melhor cama de todos aqueles dias.

À noite, andei pelas ruelas confusas e dentre as inúmeras e até charmosas opções, acabei escolhendo um restaurante de cozinha mediterrânea à beira mar e me esbaldei com uma salada maravilhosa - finalmente!

Na manhã seguinte, antes de seguir para o aeroporto de El Nido, fui andar em busca de souvenir e foi outra decepção - arrependi por não ter comprado em Boracay, que apresentava melhor estrutura e esperei encontrar algo no aeroporto de Manila, já que em El Nido o que comprei, como lembrança, foi um chaveiro e um imã de madeira, pintado à mão.

Em menos de uma hora caminhando, transpirei mais do que em horas de academia. Calor úmido e sol forte, ainda que cedo, e que, com a falta de energia na ilha - ela é interrompida algumas vezes durante o dia, por horas - nem pude me refrescar debaixo dos ventiladores-furacão das lojas ou do ar-condicionado do hotel.

Me restou sentar à sombra de uma marquise e observar o movimento, até a máxima hora do banho e check out, para encarar as quase 30 horas de voo até chegar ao Brasil: o resto é história.

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Chegando ao aeroporto de El Nido, parecia que estava entrando em uma reserva florestal - estrada de terra, muito mato, muito, muito mesmo. Um primeiro guarda perguntou algo para o motorista, continuamos. Um segundo mocinho, de pé descalço, bermuda e camiseta surrada nos parou logo adiante e perguntou o nome do meu hotel(?). Ao enfim desembarcar no que parecia a casa de alguém - no meio do mato, claro - um outro rapaz, dessa vez calçado, mas sem qualquer uniforme de identificação, pediu cópia da minha passagem aérea, abriu uma lista de três páginas fixas numa prancheta, achou meu nome e disse: "You can go, ma'am". 

Fui, e a sala de espera estava fechada. Esperei. Vi movimento depois de uns 20 minutos e havia sido aberta, com fila. Entrei na fila e logo pude ver dois caras, agora uniformizados e de luvas, abrindo mala a mala, mochila a mochila: era a inspeção de segurança! 

Ri, desacreditada, esperando chegar a minha vez e me lembrei de que deixei uma calcinha - limpa, ufa! - bem por cima de tudo. Ri ainda mais - bom, azar (ou sorte) do policial. 

Passei por eles tranquila e, na hora H, nem me lembrei da calcinha - acho que nem ele - distraí observando os gringos com seus mochilões enormes.

Cheguei na sala de espera, onde, num dos cantos, tinha um buffet tipo daqueles coffees corporativos, montado. Era quase três da tarde, estava só com o maravilhooooso café da manhã (#sóQuenão) e fui até a mesa, pensando: "neste fim de mundo, nessa desestrutura, qualquer coisa deve custar meu rim". 

- O que é isso, moça?, perguntei - em inglês, claro - para uma jovenzinha que estava em pé, com as mãos para trás, parada, atrás da mesa.
 - [bla bla bla] de arroz.
(Claro que teria arroz né? O que se come sem arroz nesse país?).
Ri.
- E isso? 
(Juro que parecia pão de queijo: daria meu rim e meu fígado por eles).
- [bla bla bla bla].
Não entendi nada, mas perguntei:
- Quanto custa?
- It's free, ma'am!
Pensei: "gente, to burra! Quando entendo o inglês deles, sonho com uma resposta ideal!".
Insisti:
- Desculpa, moça. De graça? Não pago?
- Yes, ma'am, it's all free!
- Incluindo as bebidas? Café, água, chá gelado, suco?
Yes, ma'am, it's all free!
Quase comemorei com um "uhul, tô no paraíso!", mas me contive e delicadamente só peguei dois bolinhos que não sei do que eram e que, certamente, não tinha nada de queijo, só açúcar.

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Fiquei quase três horas no "aeroporto", tentei antecipar meu vôo, mas para isso sim, o pagamento seria um rim, um fígado e os dois pulmões - não valia a pena, mesmo!

Meu receio era atrasar demais e eu acabar perdendo o vôo em Manila, pois, relembrando a chegada, eu desceria no desembarque doméstico, pegaria o ônibus, faria check-in (não conseguia por celular, por causa da conexão) e despacharia a mala no saguão internacional, para depois passar pelo raio-x, imigração e, então, voar para Dubai - depois São Paulo.

Ao mesmo tempo que estava agoniada, sentia uma paz imensa. Uma alegria inenarrável de ter vivido aquilo tudo. Sentada, entre bolinhos, café e água, observando os passageiros, reativei várias sensações, desde o primeiro dia. Revi cada foto, incansavelmente. Agradeci por tudo e, inclusive, pela coragem de ter ido sozinha e de ter experimentando tanto ao meu gosto e ao meu tempo. Por ter criado tanta consciência de várias verdades e de que, sobretudo, "o lugar certo, senhora, é o seu coração. O lugar certo é sua interioridade. O lugar certo é a profundidade de sua alma e não um lugar geográfico. Há muita gente no 'lugar certo' com o coração errado".

terça-feira, 11 de julho de 2017

O penúltimo do último nas Filipinas | parte 6

"E então você será livre para explorar a natureza e a fonte do seu verdadeiro ser". Michael A. Singer

De fato, o dia anterior trazia o melhor grupo: hoje já éramos 19, sendo que de estrangeiros somente eu e os dois alemães de ontem - um super querido e fofo, o outro, bem alemão (risos) - e os demais 16, filipinos.

Trinta e cinco minutos depois de sairmos de El Nido, ancoramos para conhecer a "Small Lagoon", que, acho, venceu a beleza de Maniloc Shrine e Hidden Beach, se é que é possível compararmos a contemplação do belo.

Como as demais maravilhas, o estonteante não é logo que se chega, embora só a chegada já valesse por tudo: fui andando dentro d'água (tenho 1,71m de altura e a água batia na minha cintura: acho que dá para os pequenos irem numa boa - risos), atravessei por debaixo de duas pedras, nadei - aí nadei mesmo - por uns três minutos e cheguei à tal laguna: não dá para descrever!, aliás, quando tirei a cabeça da água e os óculos, e olhei para cima e vi aquela pintura do céu azul-claro, mas forte, decorado por poucas nuvens que pareciam algodão doce e todos aqueles paredões que fechavam as águas, ouvi o uníssono "ohhhhh" de outros turistas que chegaram junto comigo: é de rir alto, chorar e bater palma, pela beleza da natureza - Deus tinha que ter descansado um dia só depois de fazer Filipinas, depois continuava o resto. 

Ali, na Small Lagoon, a profundidade do mar é tamanha que não vi nada, nem peixes, corais ou plantas; meu corpo sentia a temperatura quente e fria, ao mesmo tempo - aliás, no pedaço em que andei a pé, a água era tão quente que dava para suar. 

Saindo da "Small Lagoon", chegamos à Big Lagoon em poucos minutos, mas o barqueiro apenas navegou devagar para tirarmos foto, já que não desceríamos - e achei justo, porque é sim muito bonito, mas raso; então não havia muito o que aproveitar.

Tudo corria bem, quando na saída do lago um caiaque com três gringos bateu na gente, de leve, e virou. Nada anormal, até que uma moça sai da água gritando "my goPro, my goPro". Nisso, os nossos quatro ajudantes filipinos pularam na água com snorkel e pé de pato e a francesa, aos prantos, não sabia se chorava ou se gritava; enquanto os amigos tentavam acalma-la: "relax, relax".

Coitada da moça!
Nessas horas eu sou "relax, my a**". 
Eu já estava apegadíssima pelo meu celular, sabendo que se perdesse as fotos tiradas da superfície, "tudo bem" porque estariam na nuvem; agora imagina se fossem fotos de dentro d'água, que só pertenceriam às lembranças, além do lugar de origem?: foda! Perder estes dispositivos que guardam memória são de cortar mesmo o coração e não há consolo que acalme - "found it! Found it ma'am". 
Ufa! Só mesmo achar a "goPro" acalmaria a moça. E nós, agora calmos, mas rindo, seguimos para Shimizu Island, nosso cenário do almoço.

Depois do grill, mas não à deriva - já que éramos 19 - os filipinos montaram uma mesa na areia e comemos em pé mesmo, olhando a vista. Em Shimizu havia milhares de mini água-vivas e tive receio de nadar, embora todos dissessem que aquelas eram inofensivas.

Fritando, literalmente no sol, que ainda não era tão forte quanto em Boracay ou Honda Bay, mas que naquela hora brilhava sem a proteção das nuvens, me lancei ao mar e em menos de um minuto vi bem próximo uma água-viva maior: parei por ali e fiquei, sem me mexer muito, atenta, apenas me refrescando.

Já passando das 13 horas, chegando em Secret Lagoontive o mesmo cansaço da última praia em Honda Bay: sal, sol. Queria fazer algo diferente. Observando, vi que até à praia dava para ir andando, de novo com a água pela minha cintura, e arrisquei levar o meu celular, enrolado na minha canga, que segurava suspensa pela minha cabeça, para ver se conseguia fazer uma foto dessa diferente perspectiva - da areia: deu certo! 

Fotos batidas, celular (lembrando do "my goPro", "my goPro") seguro no barco, pulei de volta para a água - e que delícia!: assim como em Maniloc Shrine, você acha que está nadando no quentinho-raso, de repente sente o geladinho da profundeza-azul-petróleo e se perde nela: No mar em que o barco atracou para irmos à Secret Lagoon foi a vez de encontrar a família da Dory reunida, toda feliz, naquele azul-com-amarelo-quase-fluorescente: daquele momento em diante, todos nos encontramos.

terça-feira, 4 de julho de 2017

El Nido: uma aquarela natural | parte 5

"A vida neste mundo seduz por sua própria beleza e pela harmonia que mantém com todas as pequenas coisas belas que nos cercam". Santo Agostinho. 

Optei por ir para El Nido de carro - desde o planejamento no Brasil achava que eram voos demais e li referências de que encarar seis horas de estrada valia muito mais a pena do que enfrentar aeroportos e atrasos - e valeu! 

A viagem foi tranquila e, de novo, porque gosto, fui acesa observando as pessoas ao longo do caminho, a vista para o mar, muitas vezes privilegiada por ser um sobe-e-desce-e-curva. 

Paramos duas vezes e desci só na primeira, por necessidade de esvaziar a bexiga, já que meu apetite sumia assim que meus outros sentidos assimilavam o entorno - sujeira, calor, mosquito, cheiros estranhos e hábitos já ditos. 

A chegada em El Nido em si é horrorosa!: confusa, com mistura de árvores, lixo, tuk-tuks, pessoas e animais - de todos os tipos. Se eu não tivesse visto fotos eu desacreditava que o lugar para o qual estava indo era o mesmo em que chegara: inenarrável a sensação de vistas tão distintas uma das outras, onde parece mesmo que paraíso e terra-mundana não coabitam.

Neste cenário de caos e imundice, chegamos ao meu hotel: diferente dos outros dois e, talvez, próximo ao de Boracay, o atendimento era ruim, a recepcionista não falava inglês e o aspecto era aparentemente daqueles puxadinhos, em que alguém teve a ideia de "por que não um hotel?", sem qualquer experiência ou noção do ramo - nestas horas, me impressionava com a diferença positiva que o Brasil tem tomado nos últimos anos, acerca do turismo.

Incômodos carnais à parte, banho, jantar, descanso e a preparação para o primeiro grande encontro: Helicopter Island, Hidden Beach, Star Beach, Secret Beach e Matinloc Shrine.

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Toquinho quando compôs Aquarela certamente não tinha conhecido El Nido, porque se tivesse, de alguma forma, ela estaria representada por se tratar mesmo de uma pintura, como jamais vista.

A companhia dessa vez foi a melhor de todas: grupo pequeno e silencioso, éramos ao todo oito pessoas, sendo cinco jovens filipinos - um casal e três amigas - e dois jovens alemães - dia de paz, sem tumulto ou falações sem fim para desfrutar da literal maravilha do mundo.

Começamos por Helicopter Island, surpreendente pelo sua composição mista entre montanhas e florestas, água azul escura, de mar profundo, mas transparente, quando debaixo d'agua buscava encontrar meus amigos-peixes, lindos e coloridos, variando entre amarelo, laranja, azul, vermelho e verde, a depender do sol - que, por sinal, brilhou com leve intensidade: El Nido amanhecera nublado e o dia se passou entre nuvens, com brisas a todo instante, dando uma trégua para a pele e o mormaço.

Dali seguimos navegando sem qualquer horizonte que não o mar azul e as pedras rochosas, quando o barco começou um movimento leve para a esquerda e entre duas montanhas avistamos uma praia de areia branca - o que me pareceu uma espécie de oásis. Pulei, e dali de onde o barco atracou fui nadando até a praia, fazendo o movimento inverso de todos aqueles dias. No caminho, encontrei infinitas belezas subaquáticas e, na volta, a família do Nemo reunida: coisa mais linda!

Da Hidden Beach, agora revelada, paramos na Star Beach e, enquanto eu via peixes azuis e verdes, além de corais rosas, lilás e vermelhos, passando em segundos de uma zona clara-transparente-fundo-areia-branca para um imenso azul-petróleo sem fundo, nosso almoço era preparado dentro do barco, na grelha - e, talvez, destes oito dias, esta tenha sido a primeira refeição local boa, em que repeti, inclusive - e a melancia - agora vermelha, não mais amarela - foi mesmo a sobremesa e não minha refeição principal - ou eu já tinha me adaptado(?)!

Em menos de 10 minutos depois de finalizarmos o almoço, o barco atracou em um dos enormes paredões que abraçam o mar de El Nido - e pensei: "daqui pra onde, meu filho?". E o guia prontamente respondeu: estávamos prestes a entrar na "Secret Beach", que como o nome sugere, só pode ser acessada ao nadarmos por debaixo de duas pedras - não precisa mergulhar: dá para passar fazendo o inconfundível nado do "cachorrinho", com a cara para fora d'água (risos), ou usando coletes: vai por mim!; tinha muita vovó acessando a belezura (risos). 

Pulei, porque ali o mar já é fundo - e permanece até quase chegar na areia - e fui feliz até as duas pedras, nadando - uma outra coisa simples que fez da minha viagem mais bem aproveitada e incrível foi ter levado meus óculos de nadar. Em todo passeio há snorkel disponível, mas duvido que são higienizados e na grande maioria das vezes você tem que pagar para usar - que ok, não é caro, mas preferi mil vezes o meu simpleszinho, que me possibilitou vivenciar o encantamento por dentro do mar e proteger meus olhos do sal; aliás, achei Secret Beach pesadíssima neste sentido, literalmente: da até para boiar, de tão densa, depois que você atravessa por debaixo das duas pedras e se vê quase que numa pequena lagoa privada, naquela mistura de cores de azul e verde, com a mata das montanhas rochosas dando o tom.

Para fechar o dia, chegamos em Matinloc Shrine, uma propriedade privada, que por anos abrigou missões católicas. Ali atracamos, entramos na ilha (pagamos 100 pesos, o equivalente a quase sete reais) e andamos. Subi uma escada de pedras e me deparei com a vista de tudo aquilo que tínhamos percorrido - e mais um pouco: me lembrou Ariel's Point, o ponto alto de Boracay. É de tirar o fôlego. Embasbacar. Abrir a boca. E agradecer. 

Fotos tiradas, o calor tinha voltado um pouco - ou era o êxtase. Pulei no mar para me despedir daqueles corais iluminados, peixes, estrelas do mar e centenas de outras composições do desenho da Aquarela que eu não sei atribuir nome; apenas significado.
*Não adesão à nova regra gramatical.