terça-feira, 16 de setembro de 2014

Eleições 2014

Sempre que pego táxi em São Paulo, logo depois de sugerir um caminho para onde vou, pergunto:
- Moço [ou Moça], em quem você vai votar?

A cada 10 taxistas, uns 7 têm exatamente este fluxo de resposta:
- Não sei.
- Mas nem para Presidente?
- Não. Aí tá lascado [confuso. Complicado. Pobremático].
- E para Governador?
- ‘Cê sabe que nem sei quem tá na disputa?
- Os mais cotados são Alckmin, Skaf ou [Alexandre] Padilha.
- Ah. Então deve ser no Alckmin. Sei não.

Numa dessas, um taxista me deixou perplexa.
- Moço, em quem você vai votar?
- Não sei. Tá uma canalhice só.
- Como assim?
- Tiraram o Maluf!
- Oi?
- O único cara que eu ia votar, o Maluf, vieram com esses papo e deram um jeito de bloquear a candidatura dele.
Silêncio.
Buzina.
Freada brusca.
- Sim, mas e para Presidente, ou Governador?
- Também não sei, moça! Na época do Maluf, eu podia andar armado, a gente tava ligado com a Rota. Polícia chegava junto com bandido, mas não afetava taxista. Hoje você sai sozinha na rua?
[Perplexa] – Muito pouco (mentira).
- Pois é. Na época do Maluf tudo podia. Não dava nada não. A Rota funcionava. E outra coisa...
Respiro, tensa.
- Hm.
- ... Eu sou a favor é do Collor!
- Quê?
- Para Presidente!: O Collor! E você votaria nele também que eu sei. As mulheres gostam dele. É bonitão! Não é da sua época né?
- É, é sim.  E minha família penou muito na...
- ... penou nada! Isso que falam de congelamento é mentira! Mensalão é muito pior! Mensalão não congela mas rouba, e aí?
- E o Maluf?
- O que tem o Maluf?
- Uai, se for assim, “ele não congela, mas rouba", e aí?
- [Olhando bravo pelo retrovisor] Minha filha, o Brasil não melhora por isso. Você não sabe. Vou te falar. O Maluf foi a melhor coisa na história de São Paulo! E você não é daqui né?
- Não.
- Então. Pois vou te contar. Na época do Maluf...

Juro para vocês, gente. Ensurdeci. Comecei a conversar comigo mesma, pensar numas músicas, olhar para o trânsito. Senti uma coisa tão estranha, ruim, pesada. Medo.

Mas enfim. Queria saber do Ibope, Data Folha e etc, como seriam as prévias a partir deste cidadão e das (muitas) pessoas que concordam com ele: “para mais, ou para menos”.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Não foi na Copa, mas poderia ter sido

Conversa no salão, peguei pela metade, mas "só sei que foi assim":

[A manicure]: 'Cê num tem esse aplicativo?
[A cliente]: Não.
- Menina, é ótimo!
- Chegando em casa vou pedir para minha filha baixar.
- Que nada. Vê aí ó. É facin
- Hm.
- Entra no pré-istori.
- Como? Pré-história?
- Isso.
- Uai, mas o meu não tem isso. Tem que baixar também?
- Hm [pára de cutucar a unha]; deixa eu ver. Vira pra mim seu celular.
[A cliente vira].
- Ixi. Embananô. Agora também não sei onde o seu. É diferente do meu.
- Ah, pode deixar. Depois peço para minha filha.
- Ah, que pena. Ele é ótimo! Você tem esse joguinho e muitas outras coisas.
- Interessante, não conhecia.
[Silêncio no salão, aos sons dos secadores e do mi-mi-mi].

Passa o tempo, a cliente vai embora. Eu continuo sentada na minha cadeira.

[Outra manicure]: Ô Érica! O que você tava querendo falar pra Dona não era play-store não?
[Todas riem e Érica gargalha].
- Gente menina! ' lembrou e não falou nada?
- [rindo muito] Mas Érica, como ia te corrigir na frente dela? 
- Não é corrigir, é explicar melhor o prey-stóri.


*Não adesão à nova regra gramatical.