quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Impressões e Sensações - Parte III: O último não é o final

O curioso e dolorido prazer de resgatar experiências registradas pela memória dos sentidos.


"The real voyage of discovery consists not in seeking new landscapes, but in having new eyes". Marcel Proust 



Orlando.
Trinta minutos depois do Neil ter me deixado no Hotel (what a weird feeling), meu ônibus passou. E estranhamente embarquei, deixando a incerteza para trás - e pra frente, mas ainda dentro de mim. 

A estada na cidade dos parques foi breve: praticamente um dia na Disney, com muita emoção e diversão. Depois segui para Savannah, de volta ao "velho" jeito: Problema logístico, gastança de dinheiro com hotel - rodoviária - bagagem.
Continuei falando com o Neil por mensagens via celular e pensava muito nele. Quase sempre. Toda hora. Quando me atentava ao presente, percebia que não entendia o inglês dos Bronx e, na parada em Jackson Village, perdi o ônibus. Foi a sensação mais angustiante até então: mais do que passar pelos becos em NY. Na parada o motorista pediu para descermos sem as bagagens e entregou para cada passageiro uma etiqueta com um  número geral. Segundo ele, em algum momento, alguém da empresa gritaria o tal número e embarcaríamos novamente. Nunca ouvi esse grito e como não apareci, o ônibus simplesmente arrancou. O desespero e a vontade de chorar bloquearam meu cérebro. Eu olhava para os lados e não conseguia enxergar nada. Quando tudo passou (yeap! Tudo passa!), achei graça e acreditei em Deus e São Longuinho de que minha mala estaria salva quando eu chegasse em Savannah, no próximo ônibus. Aprendizado disso? Keel's: "Whenever you think you are basically right, you are most probably wrong", somado a "Paying attention pays these days".

Em SAVANNAH, os dias não foram excepcionais, até porque cheguei na "estação" e minha mala estava lá, mas sem rodas e sem meu casaco rosa (que além de me proteger tinha valor sentimental). Com meu humor cada vez pior (nem Keel me salvaria mais), não havia taxi e saí arrastando a mala, agora capenga, até que aparecesse um pela rua. Uma boa alma apareceu e, depois que entrei e disse o destino, ele sorriu e delicadamente disse que eu estava indo em sentido oposto, besides, meu destino era longe - oh God!
E era. Naquele momento, eu achei que "nunca mais" pararia de gastar tanto dinheiro e assumi que estava pagando pela minha paz e tranquilidade psicológica, na fé de que Deus estava cuidando da espiritual. Com essa sensação de que havia começado tudo errado naquela cidade, comi um sanduíche próximo ao hotel e fiquei por lá. Os dois dias seguintes me levaram às mesmas ruas e frustrações, como há algumas semanas não sentia e, mais uma vez, tal como em Boston sem hospedagem, ou em Nova York em pleno Halem, tudo o que eu queria era ir embora para casa. Tenho vagas lembranças de Savannah, mas vaga estava eu.

A viagem até ATLANTA foi cansativa, o ônibus estava lotado, havia muita falação e meu Ipod estava sem funcionar desde a primeira noite em Savannah, quando resolvi organizar minhas músicas e limpar o lixo alheio que se aglomera em festas estranhas, com pessoas esquisitas - e folgadas.
A moça do meu lado parecia ter a minha idade, tentou puxar papo, mas eu realmente não estava nem um pouco interessada em conversar; nem mesmo quando ela me disse que havia pesquisado um Projeto em Bambuí, interior de Minas Gerais, sobre Saúde Pública, que complementaria a tese do curso dela.
Como toda chegada, estava ansiosa, frágil e insegura. Em Atlanta não foi diferente: quanto mais o ônibus andava pelas largas avenidas, mais eu temia não saber a exata localização para meu desembarque. Mais adiante, descobri que teria uma das melhores vistas da cidade e meu coração enfim se acalmou: museu da Coca-Cola, Georgia Aquarium (o dia em que os Pandas quase perdem um espaço no meu coração para os Golfinhos), Parque Olímpico, CNN e Andrew Street, com algumas opções de restaurantes, como o Hard Rock Cafe. Perto dali, ainda, pude ir ao Underground, mas não me prendeu por mais que 15 minutos. 

Foi em Atlanta que tomei o legítimo café da manhã americano, aliás, declinei do pedido depois que vi a mesa do lado sendo servida com panquecas, ovos, bacon, salsicha, waffle e etc. Quando declinei, disse à garçonete "por favor, quero só um café puro, sem chantilly e um pão com manteiga, ie: a toast". Ela disse "ah senhorita, I'm sorry, mas isso não tenho". Falei "frutas?". Ela "Ah sim, milkshake de morango". Me diverti na simplicidade da comunicação e no fim expliquei: "está vendo aquela xícara? Pois então, me veja uma só com café. E vê aqueles pães (apontei para os toasts - pães de forma torrados)? Pois então, quero só aquilo. Sem mel, Nutella ou pasta de amendoim". Ela trouxe, algum tempo depois, mas de certo, nem ela nem a cozinha entenderam. A mesa do lado então, já toda lambuzada de alegria pela comilança, me deu um "hi" que mais parecia um convite ao deleite. Dei "hi back" e eles também não entenderam.

No último dia, tentando ir ao Fernbanl Museum, conheci outra parte de Atlanta, me perdi e caminhei por lindos bosques (essa foi super divertida!); experimentei McDonald's pela primeira vez naquele país para saber se era diferente mesmo - e o quão-no-quê exatamente - 
cansei e já às 17h decidi voltar, de onde não tinha ido. Mas foi um dia super leve e agradável. Me reconectei.

À noite, arrumei minhas coisas, descansei, assisti Friends por horas incalculáveis  e agradeci por aquela experiência solitária, pela superação das dificuldades, 
sem qualquer problema grave que me fizesse de fato estar preocupada para os momentos finais daquela etapa de vida: participar da formatura da Te em BUFFALO e passar com ela, Ola e Nana, 10 dias entre Las Vegas, Los Angeles e São Francisco, numa road tripEntre o céu e a terra há quem saiba que este propósito me apresentaria algum sentido; belo e único. Mais do que me perder, fui por ali me encontrar.  

Neil e eu ainda nos falamos, bem menos, raríssimas vezes, uma por ano, quiçá, mas com muito carinho e uma provável vontade de nos vermos de novo, saber como tudo anda.
Estes dias fui correr e para ouvir minhas músicas - agora limpas - peguei o porta-dólares para guardar o Ipod (o mesmo! Voltou a funcionar logo depois do súbito) e dentro dele estava o guardanapo com o telefone do Neil. Só este não voou, nem se deixou levar.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Impressões e Sensações - Parte II

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu (...). O mundo na TV é lindo, mas serve para pouca coisa. É preciso questionar o que se aprendeu. É preciso ir tocá-lo". Amyr Klink

Williamsburg.
Também de taxi, cheguei para fazer check in no hotel - confortável. A partir daquele destino, decidi não escolher mais hostelspelo menos não sozinha. Já era início de noite. Conversei com minha mãe por skype (a benção mais preciosa dessa minha vida!), desci até o pub dentro do próprio hotel, pedi a clássica e imbatível Ceaser Salad para então dormir.
Os dois dias seguintes foram mágicos e de volta ao passado: mais precisamente, século XVII. A estadia (linda!) me fez recuperar o fôlego. Meu lugar preferido naquele burgo é a casa dos Rockfeller que virou museu: um sossego de paz! Jardins infinitos e parreiras aconchegantes. Sentar debaixo delas me resgatou uma espécie de crença nas possibilidades mundanas. Andar pelas vielas, compartilhando de uma alimentação totalmente orgânica, vendo aquelas mulheres e crianças em trajes típicos, os homens em seus cavalos, os castelos sem esperar qualquer evento de guerra: mais uma vez, a experiência me ensinava mais do que as aulas de História. 

No último dia já tinha visto tudo e até dar uma corrida eu dei, depois de longas semanas. Foi nesta cidade que o novo CD do Teatro Mágico, A Sociedade do Espetáculo, me embalou com muita poesia e energia boa de que as coisas dariam certo. E foi nesta atmosfera que conversei com a Paula por três horas, sobre tudo, principalmente, de abrirmos um negócio e sermos felizes - engraçado que eu abri - ela hoje se constrói por si e em si mesma -  mas não estamos juntas. E estamos felizes - I guess!.
No dia seguinte, cheguei cedo até a rodoviária como tinha (erroneamente) sugerido a recepcionista do hotel, porque ela só abriria dali há 1 hora. Mesmo depois de aberta, não havia qualquer informação sobre meu ônibus e o que tentei conseguir me foi muito mal dada. Graças a Deus, após uns 15 minutos além do horário previsto, o ônibus chegou e segui até Virginia Beach.

Virginia Beach.
Ali, ao longo dos sete dias de chuva, andei de bicicleta, li um pouco mais das Confissões de Santo Agostinho, dormi, vi filmes, me alimentei muito bem - quase que "pela primeira vez, em muito tempo!" - experimentei vinhos da Califórnia e comecei a concordar com a minha mãe de que a vida na praia não deve ser nada mal - e eu pouco sabia da maravilhosa experiência que me aguardava em Miami. Inclusive, antes de chegar até lá, ainda no aeroporto de Norfolk, vivi a primeira chatice dos vôos internos: minha mala estava 100 pounds acima do permitido e por isso paguei 90 dólares de multa + 25.00 pelo despacho.  Com esta, perdi o apetite e quase o humor. Mas foi em Virginia Beach que conheci um cara que vibrou quando eu disse que eu era do Brasil, porque ele havia estado no Caribe há uma semana. Até hoje tento entender como uma coisa tinha a ver com a outra e passei a rir, muito, de todas as confusões geográficas que faz aquele povo, ao invés de criticar simplesmente pela crítica do erro.
Já no aeroporto de MIA, enquanto esperava o Meet, decidi então me alimentar. Dois chopps e um sanduíche que quase acabou sendo pão com queijo: a carne não me aparentou bom estado. Já pagando a conta, conheci, sem querer, um tal de Dom. Quarenta e poucos anos. Conversamos por ótimos 15 minutos; ele havia perdido um voo e achou que eu também estava no mesmo. Ele era Executivo (segundo ele mesmo) forte na 2a. maior empresa de gestão de marca do mundo e mora no Canadá. Ficou de me escrever para mantermos contato e isso me deu uma ótima perspectiva de se tornar uma proposta de trabalho; mas o email dele nunca chegou e preferi pensar que ele perdeu o guardanapo. Sem querer.

Miami
Enfim o Meet chegou e comemoramos como se tivéssemos nos visto há poucos dias e não há quase quatro anos, tal como com a Jess, naquele restaurante no Soho, em Nova York. Pegamos um taxi e assim que chegamos no hostel um cara muito gato já nos convidava para uma festa. Entrei no quarto (misto), passei desodorante, troquei o jeans por uma calça preta-pescador e o tênis por um sapato. Uma maquiagem rápida e básica e lá estávamos num pub, ponto de encontro para a festa. Depois de duas cervejas, Cookie, o moreno espetacular, alto, bronzeado naturalmente, de olhos amarelos e barba por fazer, muito rente a pele, fez sinal em direção à saída do pub. Passando pela porta, lá estava ele sorrindo largamente, como que para um comercial de pasta de dente, em frente a uma limousine preta, alta, gigante e iluminada, nos esperando para nos levar a uma boate top de Miami Beach e, confesso, me sentia uma pop starEntramos por uma fila paralela VIP, que não tinha ninguém na nossa frente e ali dentro estava um mundo por mim desconhecido. A pista, a música e o êxtase natural da alegria nos arrastou até altas horas, quando Cookie decidiu nos levar para um (outro) pub, dessa vez, a pé: foi láque conheci o Neil.

Perdemos o dia seguinte por dormirmos até tarde e pelo cair sereno da chuva, mas tão logo o sol se pôs, saímos para outra boate tão 
impressionantemente mais glamourosa que a a outra que não consegui ficar por duas horas: era muito luxo para meu estilo de vida e diversão: a cerveja, pequena, um pouco mais de 200ml custava 14 dólares e o público insanamente bêbado e nada empático. No domingo, fizemos check-out e comemos em um restaurante legitimamente Indiano. Foi muito querido da parte do Meet me explicar o hábito e tudo o que vem com ele e, surpreendentemente, achei o sabor excelente: "no spicy"!

Por causa do Neil e otras cositas más, decidi ficar pra'lém dos três dias. Meet se despediu de mim como se fôssemos nos ver dali alguns dias, e a semana seguiu perfeita: passei um dia em Everglades -  sim, segurei um filhote de jacaré! - jantei com a Lorena e nesta noite experimentei o inesquecível Irish-car-bomb, deixando o garçom estupefato e incrédulo, por mais que repetisse "Estoy en vacaciones. No dirijo. No hay trabajo mañana" e noites agradáveis como esta se repetiram não só com ela, mas também com a mãe e uma tia: foi com ela que conheci a Lincohn road.
No dia seguinte, peguei um ônibus (estava com saudade) e fui até Key West me revitalizar com a bela paisagem caribenha e toda a energia única daquele clima, das praias e dos resorts luxuosíssimos! Conheci uma mexicana, mais nova do que eu, acho que tinha uns 24 anos, e que também viajava sozinha. Ela sim estava de vacaciones. Há dois anos trabalhava para uma Indústria Multinacional do Tabaco e no fechamento de avaliação do processo dela como trainee, recebeu, além de uma generosa promoção, o convite para trabalhar na Dinamarca. Para comemorar, optou por momentos calientes, antes do frio europeu. Me identifiquei muito com ela e, dessa vez, fui eu quem perdi o guardanapo: realmente sem querer!
De volta a Miami Beach, apreciei o modo americano de "ir a praia", me encontrei com a Lorena novamente e tivemos momentos de muita risada e conforto com a família dela em Sunny Isles: "pela primeira vez em muito tempo", me senti em casa. Aquela foi minha penúltima noite antes de partir e a minha vontade era postergar mais sete dias, mas todo o meu caminho estava não só traçado, como pago. E os ônibus esperariam por mim, mais uma vez.
Na noite seguinte, a última, fui jantar com o Neil num japonês meio bistrô - é, pois é - e havia até um ator brasileiro famoso e achei super bacana olhá-lo com admiração enquanto o Neil não fazia ideia nem conseguia atribuir importância. Assim, me contive e me comportei com (quase) indiferença e não sei se arrependo de não ter tietado e pedido o guardanapo para ele assinar para mim.
A noite foi linda e na saída nos deparamos com um movimento festivo. Seguimos e o Neil se lembrou que era a festa de Independência do México. Ariba! Fomos bailar um pouco. Como não poderia ser perfeito, porque "nada nunca é", a madrugada se estendia demais para quem precisava estar às 5 horas não só de malas prontas, como no ponto esperando o ônibus passar que, sem tolerância, seguiria sem diminuir a velocidade.
Antes disso tudo, o dia tinha sido demasiadamente cheio de feitos gostosos: caminhadas pela cidade, visita a Little Havanaaventura num salão de beleza tocado por Venezuelas que há 17 anos moram por ali e não falam uma frase completa em inglês - e foi delas que ouvi pela primeira fez sobre Los Iluminastes e a Nova Ordem Mundial. Almocei num "restaurante brasileiro" que não deixou a desejar at all, me deliciei com a livraria Taschen e me apaixonei para sempre com Keel's Diary e sua forma de refletir sobre como se dá a vida: rindo!

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Impressões e Sensações - Parte I

O curioso e dolorido prazer de resgatar experiências registradas pela memória dos sentidos.

Há pouco mais de dois anos eu pedi demissão: e naquele momento a minha intenção era fazer um sabático pelo sudeste asiático. Antes dele veio o Carnaval e ali na quarta-feira de cinzas tudo mudou. Lembro de sentir uma palpitação curiosa depois de receber um telefonema. Corri para o computador e naveguei por horas pela internet, viajando, quase que literalmente.
Pouco menos de um mês depois, eu trocava a quase emitida Passagem de Volta ao Mundo para um pouso em Boston, nos Estados Unidos. O motivo principal para esta troca água versus vinho foi um chamado para fazer um curso que até então estava meio nebuloso, mas a grosso modo, trataria de "Como Criar Negócios de Alto Impacto". Por mais valiosa que tenha sido esta experiência, respirando um ar parecido com os de MIT e Harvard - imagino eu - com conhecimento sendo transpirado e inspirações inspiradas, era pouco. Abri o mapa dos Estados Unidos e pensei "por quê não viajar around?". E aí, hoje, esta resposta ainda não me vem completa. Não me vem em palavras. Mas me vem sentida. E meio que sem ela - ou com ela vaga - me veio outra pergunta: por que não tentar traduzir isto e compartilhar?

Assim, meus dois meses up-side-down-nos-United States of America serão aqui divididos em 3.1 blocos como uma segunda comemoração, afinal, "não existe felicidade, senão compartilhada" - com limites, acrescento. Como há "mais coisa entre o céu e a terra como sonha nossa vã filosofia", também há entre o que se conta e o que se vive:

1) "Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento". Clarice Lispector
12 de abril de 2012.
Achei BOSTON bonito e me lembrou muito o Canadá. Andei bastante e passei boas horas lendo no parque e reparando bem nas crianças conversando em inglês e aproveitando o mode off de vida em família. À noite encontrei colegas do curso e jantamos num elegantíssimo restaurante e ouso dizer que me senti num diálogo de Woody Allen - tudo (muito e quase) sem sentido. Na manhã seguinte arrumei minha mala somente meio aberta e peguei o trem rumo a Wellesley, campus da Universidade de Babson. A semana transcorreu bem, com relacionamentos mais superficiais, mas alguns interessantes e que se mantêm até hoje, de certa forma. Na minha última noite, quando então abri o mapa do país, optei por voltar a Boston e conhecer os campi de Harvard e MIT, além de visitar a fábrica da Samuel Adams e começar a trajetória americana a partir daquele ponto.

Na mesma intensidade ingênua de que "it would be easy like 
Sunday Morning", sofri para achar hotel e tive que antecipar minha ida para Nova York - cidade seguinte do roteiro. Acabei pagando USD 218.00 pela noite e reservei, então às pressas, um hostel na Big Apple por USD 45.00 a diária, com a garantia só de um private room. Aquelas horas marcaram a primeira vez, daquela viagem, em que eu pensei em desistir, por não saber enfrentar, com frieza, raciocínio lógico e ágil, a dificuldade de achar um lugar para ficar e seguir meus dois meses sabáticos: já na manhã em NY fui à agências de turismo para tentar comprar pacotes internos e me aliviar de tais stresses, mas o que tinha era somente para a partir de Maio: estava no início de Abril. Sentada num café, aparentemente muito bem resolvida com "onde ir? como e quando?", rascunhei um roteiro a partir de um dos que li num dos muitos folders das agências e me abria, literalmente, para um caminho sem volta.

Nova York. 
Chegando, passei um perrengue danado: errei de metrô e tive dificuldade de entender o inglês das pessoas, principalmente dos negros. Liguei para o celular de alguém do hostel, que era o número que constava no site deles e preferi pegar um taxi do que arriscar mais uma vez as orientações por debaixo da terra.
O motorista tinha cara de afegão e poucos amigos.
Fui bem recebida pelo dono do hostel, embora o lugar era de dar medo e frio na espinha - como diz a Lorena, cenário de assassinato de filme (americano). Quarto pequeno, quente, basculante mínimo. Cheirava à velho. Mofo. O banheiro era no corredor. Tinha toalha e lençol em cima da cama, mas não cobertor. A temperatura era de graus negativos. Na primeira noite eu quase congelei, embora me "acostumasse" com o frio, todas as noites me preparando com meias, luvas, cachecol, touca e casacos, bem encolhida, para tentar concentrar o calor do meu corpo, nele mesmo.
Logo no início da manhã seguinte, um amigo do Meet, também indiano, me enviou mensagem pelo celular se apresentando e me convidando para jantar. Ah, sim!: Em Boston comprei um Sim card que por 10 dólares por mês me dava acesso ilimitado a internet e também sms (inclusive DDI: mamãe seria infinitamente mais feliz).
Para não parecer estranho só eu e ele no jantar, chamei três colegas que estavam no curso comigo em Boston e que eu sabia que também passariam alguns dias por NY. Foi uma noite super agradável, embora às vezes me desprendia do português para dar mais atenção ao amigo do Meet. Nos falamos mais algumas vezes, mas não nos encontramos de novo. Nunca entendi o porquê. E hoje fica claro que nem o nome dele me recordo facilmente.
Por outro lado, fui agraciada com a mensagem da Jess, suíça-espanhola que estava em NY para um Congresso, mestranda em uma universidade em Thunderbird. Nos encontramos no Soho, tivemos um lindo almoço e acabamos por rodar muito, inclusive Chinatown e Little ItalyEngraçado repensar a conversa que tive com ela, porque entre tantas coisas, o que mais me marcou foi nossa inquietude em relação aos jovens e as corporações com suas ofertas de trabalho. Me lembro que rascunhei uma ideia de um modelo de negócio que pudesse agregar diminuição de custo às empresas, com recrutamento, caso elas contratassem corretamente, por identificação e não por quantidade. Entendi, mais tarde naquela viagem, que a minha inquietude trazia três coisas consigo: trabalhar internacionalismo e cultura, comunicação e entendimento de "mercado" e "pessoas". Mal sabia eu que semanas mais tarde conversaria com a Paula e que em sete meses eu participaria da co-criação de uma empresa que made it happen!

Dos lugares que visitei, o Central Park foi o mais alucinantemente belo, apesar do Strawberry Fields para mim ter um impacto tal qual quando me deparei com a Monalisa no LouvreO Memorial do World Trade Center me despertou uma reflexão sobre se fazer um show com a morte dos outros. Tive uma incompatibilidade com a energia daquele lugar, mas entendi, como em nenhuma aula de história, o significado e o sentido da cultura americana. 
Para descontrair, a Broadway! Mary Poppins indescritivelmente me levou de volta à minha infância e à magia da vida. Interessante passear pela Wall Street (+Biblioteca Pública) e 5th Avenue, ir ao Empire States e o Top of the Rock, além de "madrugar" pela Times Square.
Ao longo do dia, tudo era literalmente luz! O medo de voltar para o hostel à noite nunca passou, mas com o tempo ficou mais leve. Era só andar rápido, sem encarar ninguém nem farejar os aspectos ruins dos becos. Ignorar a sólida e insegura solidão escura. Estive, ao longo de toda a viagem, mas principalmente nessa região N/NE dos EUA, dificuldade com alimentação e viciei, como na Líbia, em saladas: Eu voltava ao paladar saudável e natural no país dos hambúrgueres e dos refis de refrigerante.

Ainda em Nova York, me aventurei pela Central Station e comprei um bilhete: Na FILADÉLFIA abri exceção alimentar para o sanduíche mais famoso deles e super me recomendado por uma amiga, mas achei sem graça e sem gosto. Ou dei azar, ou é mais uma das falações que ganham fama - sem razão. Lá, não aproveitei muito porque o mapa que consegui na estação era ruim, não achava pessoas com aparência solícita para perguntar e passei a manhã perdida, tentando me achar e achar o tal Joe's Steake para comer o Philly. À tarde, andando sem rumo e tendo abandonado o mapa, acabei encontrando todos os lugares turísticos e agradeci por ter ido só por 1 dia. Diria que é uma cidade para não voltar.

No dia seguinte, um dia normal, a Big Apple ficaria para trás. Era chegada a hora do check-out e fechei a porta daquele quarto também sem sentimento saudoso de volta. Por mais querido que o dono fosse, o cheiro e o ar não me traziam conforto, não sei também se segurança. Ali naquele quarto, agradecia por estar num dos países mais freaky ever! Se fosse num Brasil, I'm sorry, mas não ficava não.

Washington.
Mais perrengue para chegar ao hostel. Tentei ir a pé da estação de metrô, como sugerido. Não achei, peguei taxi. O lugar além de feio, trazia um mendigo bêbado tagarelando na aparente porta de onde eu deveria ir. Fingi que estava tudo bem. Não havia campainha. Bati na porta, liguei e nada. Quase em desespero, porque anoitecia, decidi checar o endereço. Ufa! Eu estava há duas casas para trás do lugar! Mesmo assim, no endereço certo não havia campainha e ninguém atendia ao telefone. Em alguns instantes, uma moça abriu a porta, de saída do predinho-casa; aproveitei, entrei e fiz o check-in: fui recebida com toalhas e cobertor - bem melhor agora!
Ao longo dos três dias só me deparei com três meninas, que se alteraram - não ficaram todos os dias ali hospedadas. Uma devia ter uns 40 anos, alemã; uma de 20 e poucos, japonesa, estudante no Canadá; uma da minha idade (27 na época), húngara, estudante em NY: todas a passeio após atenderem a congressos. Exceto o Pentágono, consegui ir aos principais pontos turísticos e me decepcionei com a Casa Branca: bonita mesmo é a Biblioteca Pública e o Capitólio. Andar por DC é melhor a pé, embora não tenha tentado ônibus. Fora da região do President's Park, tudo me parecia descuidado. Me lembro que me surpreendi, ou não sei porque, me chamou a atenção da maioria de negros compondo a população. 

Eu, sempre procurando Pandas, sabia que no Zoo de San Diego haveria, mas não iria passar por lá. Olhei o zoo de Washington na internet e havia possibilidade. No dia em que ia passar por Georgetown, mudei meus planos e fui para o zoológico. Indescritível a sensação de ver dois Pandas Gigantes, fofos, brincando e se alimentando, na minha frente. Foi um ótimo remédio para curar uma reflexão depressiva depois de ter visitado, no dia anterior, o Memorial da 2a. Guerra, do Vietnã e do Holocausto. 
Para fechar com chave de ouro, na volta, vi uma reunião de pessoas uniformizadas no metrô e na saída da estação em que eu deveria descer para voltar ao hostel, decidi segui-las. Descobri que era a final do campeonato de Hóquei. Não me animei em pagar pelo ingresso, mas entrei em um pub do time local, pedi um filé de peixe frito com molho tártaro, regado a alguns draughts de cerveja e me envolvi com aquele bando de americano apaixonado, comemorando cada possibilidade de "gol".

No check-out, na manhã seguinte (e vitoriosa), a moça que mal falava inglês, embora fosse dali, disse que era mais rápido eu esperar um taxi na rua do que se ela ligasse pedindo. Começou a chover e decidi ir andando, arrastando a mala. Cheguei no metrô e nada de taxi. Só deu certo porque eu não tinha planejado isso como das outras vezes. Esperei pacientemente por um, quase que num sintoma de acostumar-me com esta parte de partidas e chegadas, quando ele enfim me deixou na estação de ônibus, para que eu pudesse seguir para Williamsburg.

*Não adesão à nova regra gramatical.