quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Um ano do quê - mesmo?



"Há um ano eu decidia pela vivência de uma nova-outra vida. Não foi pelo dinheiro, pelo status, pela glória ou pela reputação. Foi pelos meus valores, talentos e paixões - pela busca de um trabalho realizado pelo fim em si mesmo, que me preencha de sentido e faça a diferença. Hoje é dia de comemorar: Feliz aniversário, Coragem! Que possamos juntas caminhar por nossas escolhas, fiéis aos nossos "múltiplos 'eus" - Eu, 17 de Dezembro de 2012


Leia ouvindo: http://www.youtube.com/watch?v=doU59v5LxVY


Há quase um ano, escrevi sobre as escolhas que fazemos na vida e o peso que elas têm em nos "definir" e, principalmente, em causar um mal-estar quando entendemos que aquele feito não combina mais com você.

Ao longo destes meses, tenho lido livros, histórias, contos e reflexões belíssimos, em que 
os protagonistas são sinceros com a dificuldade de encarar a mudança - qualquer que seja ela. Tive a oportunidade de conhecer algumas, pessoalmente, e de trocar ideias em mesas de bares e cafés, com outras que vão sumir e se distanciar do meu radar, procurando por elas mesmas, por aí, num processo sem data - e sem fim.

Falamos que "re-escolher" não é necessariamente um marco dos 20 e poucos anos. Talvez seja mais intenso porque é o primeiro grande passo por si mesmo, a primeira definição dentro de um grupo, uma sociedade, um conjunto de valores, gosto e crença. Mas depois dos 20 e poucos vem esta releitura forte do que foi feito e um desejo quase que incontrolável de fazer dos próximos 20 anos algo com mais sentido, sensatez, prazer, alma e espírito alimentados, quase que como uma prestação de serviço a si mesmo; ao mundo.

Falando em alma, parece que ela se aquieta, ao mesmo tempo em que sente o máximo grau da vitalidade e da expansão da vida!

Falamos do porquê existirem tantos jovens hoje sedentos por fazer a diferença, perdidos com a gama de escolhas que a vida apresenta. Daqueles que por outro lado continuam vetados de sonhar, porque o que tem é o que é para hoje e que vai pagar as contas de amanhã. Dos privilegiados, como eu, que se deram um tempo para nada, para tudo, para experimentar, se reinventar, refazer, começar, recomeçar, reconhecer, retroceder, respirar, voltar, repassar; reviver. Errar e aprender. Fazer, pensar, refazer, refletir - de novo, respira e vai.

Falamos do conforto, da zona que nos encobre de aconchego, certezas, segurança e estrutura emocional. Verdades pela metade. Mentiras necessárias?

Neste um ano sem trabalho (aspas?), repensei sobre o que é isso e passei a acreditar, cada vez mais, no porque das palavras terem poder e do porque elas poderem representar tanto - e o porque de querer usá-las para o bem, para o que é bom:

"A palavra russa para trabalho, robota, vem da palavra usada para escravo, rab. O termo latino labor significa trabalho penoso ou duro, enquanto travail em francês deriva de tripalium, um instrumento de tortura da Roma antiga feito de três varas. Poderíamos, então, considerar a visão cristã inicial de que o trabalho é um castigo, uma punição pelos pecados do Jardim do Éden, quando Deus nos condenou a ganhar o pão de todo dia com o suor do nosso rosto. Se a Bíblia não faz muito o seu gênero espiritual, tente o budismo, que acredita que toda vida consiste em sofrimento(...)", discorreu Roman Krznaric em "Como encontrar o trabalho da sua vida".

Sem querer concluir, entendi que trabalho e diversão podem ser perigosos, se muito juntos; que fazer da sua atividade fim por paixão pode corroer. Que escolher pelo dinheiro é uma opção necessária, mas não deve ser o pilar que sustenta, porque ele é abstrato e pode não aguentar o suficiente numa alma que se firma por talentos e outras motivações, mais sutis e incontáveis. Intangíveis. Aprendi também que a atividade fim não vai ser perfeita e leve, principalmente por ser conquistada em um processo tão solitário. Aprendi que experimentar, o que quer que seja, será o que tiver que ser: ensina, testa, confunde, reapresenta, desconstrói. Enriquece.

Sobretudo, aprendi que sendo todos nós uma soma de "vários eus", o Jornalismo pode não ser (mais) a minha vocação, porque ele era quando eu era uma outra pessoa, com outras experiências. E que a minha busca de hoje vai me levar a vivências que podem agregar outros eus e, no meio do caminho, me fazer a mesma pergunta, mais uma vez, que apontará para uma resposta que poderá não estar ligada ao que era hoje. Mas este hoje dura quanto tempo?: "Faça esta pergunta a você: Será que daqui há um ano o que você está fazendo hoje ainda vai importar para você?".

"Pergunta
Tem paciência
com tudo não resolvido em teu coração
e
tenta amar as perguntas em ti
como se fossem
quartos trancados ou livros escritos em idioma estranho.

Não pesquises em busca de respostas
que não te podem ser dadas,
porque tu não as pode viver,
e
trata-se de viver tudo.

Vive as grandes perguntas agora.
Talvez um dia longínquo,
sem o perceberes,
te familiarizarás com a resposta". Rainer Maria Rilke

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Histórias de Empreendedorismo*


*Este texto foi publicado por Sustentabilidade na Empresa, em 08/Out/2012.
Há quase quatro anos, a dúvida sobre a palavra “empreendedorismo” surgiu em mim, pela primeira vez. Olhei no dicionário e deixei passar, prumando minha carreira para a linha (quase) tradicional do mundo corporativo. Três anos depois, acabei interrompendo, ou suspendendo por um tempo não determinado, este rumo escolhido.
Conectando os pontos e os anos, decidi compartilhar este momento de dúvidas e encontrei pessoas com uma linha de pensamento similar e com uma vivência parecida:experimentar a sensação trazida por uma força de ansiar por algo que muitas vezes não tinha nome, mas estava quase sempre ligada a “resolver algum problema”, que raramente se soube exatamente qual era.
Comumente dentro deste cenário novo, tentando me orientar para um lado mais pragmático e entender de fato o que aquele desconforto queria realmente dizer, aceitei um convite desafiador de trazer para o Brasil uma iniciativa (norte) Americana que ousa ser global: um evento de cinco dias que objetiva conectar ideias a alguns milhões de dinheiros – isso mesmo – seja lá qual for a moeda. Basicamente fazer movimentar o que está parado e criar a ponte para extremidades que não se alcançam, ou que estão próximas mas não se enxergam.
Tornando-me a cabeça e o coração do negócio no Brasil, optei por começar a prospecção do evento por pessoas que fazem do extraordinário o seu dia-a-dia, que são ativas e realizam o incomum, que aprenderam a não temer o medo e a buscar um mínimo de foco de luz para que a escuridão não embace uma parte importante da inspiração que vez ou outra carece de um recurso que vai pr’além do campo das ideias e da vontade de inovar. Dispus-me a ouvir histórias de desconhecidos por muitos, mas que mexem com dezenas – até centenas – de milhões de pessoas diariamente. Impactam. Mudam. Reinventam. Transformam. Causam novos desconfortos. Interagem. Provocam. São e deixam de ser, dentro daquilo que se propõem a fazer. Dão perspectiva.
Em poucos meses, histórias que trazem um propósito foram reunidas para serem apresentadas, cada uma a sua maneira, cada qual com seu gargalo, durante o Entrepreneur Week, entre os dias 22 a 26 de Outubro, no Rio de Janeiro. Durante esta semana, empreendedores e investidores terão a oportunidade de discutir o porquê do Brasil ainda não ser a potência econômica com transformação social que pode e se movimenta para ser. E, sobretudo, porque o Brasil pode ser um modelo a ser seguido em várias frentes, seja no setor público, através de iniciativas governamentais para motivar a capacidade criativa de tecnologia & inovação, como acontece na própria capital fluminense, que tem apoio do Secretário Pedro Peracio; seja em comunidades de baixa renda, em que plataformas de educação virtual podem ser utilizadas para alavancar o conhecimento, como proporciona o QMágico; ou seja por meio de fomentos de investimento e noções de marketing e comunicação digital, como vai ser exposto pela Resultados Digitais , youPix, Proxxima e tantos outros.
É motivador, energizante e por que não esperançoso, conhecer empreendedores que articulam idéias e implementam ações integradas ao princípio de servir às pessoas, impactando positivamente a sociedade na qual estão inseridas, assumindo o papel ativo de transformação destes “novos tempos” e indo além do assistir ao espetáculo contribuinte da vida desafiada em não só prosperar, mas perpetuar – e ecoar. Não é fácil. O processo é árduo. Mas a recompensa é prazerosa e, sobretudo, coletiva.
Bárbara Teles é jornalista e nos últimos 4 anos trabalhou com recursos humanos para uma empresa brasileira, com atuação internacional. Após vivência corporativa em diversos países e região norte-nordeste do Brasil, decidiu entrar para o mundo do empreendedorismo. Atualmente é curadora e organizadora do Entrepreneur Week, que vai acontecer pela primeira vez no Brasil, no Rio de Janeiro, em outubro.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Do brasileiro que torce a favor - do brasileiro

Medíocre: "1 mediano. 2 Sem relevo; comum, ordinário, mediano, meão". Aurélio.

Polêmicas e gosto à parte, as diárias críticas ao Programa da Fátima Bernardes têm me despertado algumas interpretações e principalmente a de que o brasileiro gosta quando algo dá "errado".

É sabido que isto de "dar certo" x "dar errado" é relativo e, no caso dela, se o Ibope classifica como "segundo lugar", tem gente que já pinta o cenário derrotista; enquanto talvez, para ela e quem quer que seja o telespectador que a assiste, não se importa com os números apontados.

Me intriga que haja tanto programa ruim, que corrobora para o desvio moral, mas que não é pauta de nenhum veículo. De nenhum jornal, jornaleco impresso ou internet.

Eu entendo que se criou - aliás, não entendo - uma expectativa enorme para o programa dela, para o papel que ela tomaria a frente do que quer que fosse, mas e daí?

Executivos deixam cargos ocupados por 20 anos para cozinhar e curtir a família. Atores bem pagos no Brasil e no mundo abrem mão dos flashes dos papparazi em prol da luz do sol, do vento e da água fresca numa chácara, fazenda, mata ou casa de praia.

Acho que a abordagem dessa novela toda poderia ser muito mais positiva do que tem sido: que bacana que seria se revelassem que a Fátima Bernardes foi de fato feliz como jornalista tradicional, mas que na verdade foi uma linha de carreira que seguiu para pagar as contas e dar aos filhos um conforto que ela não pôde ter. Que era um trabalho como outro qualquer e que a partir do momento que ela pôde se dar ao luxo e viver o privilégio de fazer algo que gostava desde sempre, sem deixar de ganhar dinheiro, tentaria.

Que para construir o próximo passo ela não mexeu só com a vida dela, mas com centenas de outras pessoas que interromperam a linha que seguiam para recomeçar "do zero", após dois anos de trabalho, 14, 20, 25; para viver um desafio comum.

Que "liderar pelo exemplo" é a linha tênue entre decidir sozinho e enfrentar o ridículo versus agregar confiança e agir com respeito - respeito próprio, inclusive.

Que a expectativa que você tem de uma pessoa, não necessariamente te dá o direito de cobrar por ter esperado algo que não podia lhe ser dado, simplesmente porque esta pessoa não queria.

Que se para você é um desperdício ela sair do Jornalismo corriqueiro para fazer "aquele programinha", pode ser também para várias pessoas que pensam assim do CEO que abriu mão de um futuro que você deslumbrava, para ir pescar - literalmente.

Que a vida é feita de momentos e nem sempre o que é, será para sempre. E que o que parece ser, não é - e talvez nunca tenha sido.

Mudanças de rumo de uma Fátima Bernardes reacendem em mim casos que são perdidos pelo simples capricho de se anunciar o que deu errado, para coagir pessoas a tentarem a felicidade pela coragem; enquanto se poderia tirar muito mais da riqueza de cada detalhe, de cada decisão ou mudança como essa.
Se o conteúdo é confuso, o formato pouco dinâmico, errar é natural em uma tentativa de mudança - ou não? Já estamos tão apressados que não existe mais "processo": só execução e resultado?

Cada vez mais sou a favor de mudar o foco dos "heróis do Brasil" e valorizar aqueles que diariamente tentam dar certo - e dão certo; mesmo que você insista em dizer que não, que não chegaram em primeiro lugar ou não corresponderam à expectativa de outrem.

Sou a favor, sobretudo, da torcida pelo brasileiro que ousa; não só por simplesmente acreditar, mas por conhecer vários que têm sido muito bem sucedidos nas escolhas "mal-explicadas" e que são um exemplo por buscarem com sinceridade aquilo que querem e não aquilo que os outros esperam que queiram.

A minha torcida é praqueles que tentam e não se acomodam e que mesmo com muito barulho da torcida que se anima contra, conseguem escutar o mais silencioso dos sons.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Os meus diálogos com o diário americano

Em todo lugar, Nova York
Em todo lugar, as crianças são iguais.
Fazem birras e pirraças,
Riem do que não é risível
E brincam com a simplicidade.

Os adultos se distraem com o trabalho
E se irritam com o teatro,
A bagunça, o brinquedo e os filhos -
Era o que dizia Santo Agostinho.

Não importa se da roça,
Do Japão ou da cidade,
Se alegram com pouco e
Se incomodam por nada.

Nem alguém.

Não importa o carro, nem o destino,
A travessia te faz encontrar com taxistas de harém,
de Belém, ou Jersusalém.
Do araque.

Em todo lugar, os taxistas são iguais.
Correm, são gentis, educados, mal-humorados.

Em todo lugar, tem de tudo isso aí.
Até mesmo Nova York, que reúne o mundo todo dentro de si,
mas do mundo mesmo, não tem nada.
Se no mundo eu não acho Nova York, porque é que é que Nova York
tem o mundo?

Geografia I
- Where are you from?
- Brazil.
- Uow! Niiiice! You know what... Two weeks ago, exactly two weeks ago I was in Aruba!
- ???

Um doce engano
Os Estados Unidos são um país atrasado.
A máquina do cartão de crédito ou débito não vai até o cliente
São da época em que se pode fumar em lugares fechados
E de que não se pode beber uma cerveja na rua abertamente.

São ousados por suas mulheres e seus top less
Os homens de nu frontal
As streapers nas boates onde se fuma
E o espanhol que se comunica mais que o inglês.

São arrogantes por não se importarem de onde você é, vem ou mora agora.
São humildes por conviverem com o mundo inteiro desde criança e não mostrarem vantagem quanto a isso
São bons jogadores por terem inventado a regra
E perspicazes juízes por serem o dono da bola.

São inventivos, inovativos e inteligentes.
Curiosos, perfeccionistas, maravilhados
Que deixaram que a tecnologia os deixasse
Enganados.


O meu "Quem se importa"
Já não me importo com os kilos de gelo nos copos d'água
Adoro os ônibus públicos com ar condicionado
Os metrôs que te levam anywhere
E everywhere que é lindo, mágico, pomposo
Forte e full of arte.

Geografia II, a lição
 - Where are you from?
- Brazil.
- Ahhh, Brazil! Brazil!
- Yeah!
- Nice. What 'you speak there?
- We speak Portuguese.
- Ah! Portuguese! Good.
- Anham.
- Yeah. You guys are very closer to Portugal, right?
- (...).






sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Ainda ensaiando - O que você quer ser depois de ter crescido?


Quando fiz vestibular, no fim do ano de 2002 e início de 2003, eu achava que eu queria ser Jornalista para fazer vídeo documentário e ser uma mulher a lá Eduardo Coutinho. Nove anos depois, há um mês de me demitir de uma empresa que estava há léguas de distância do Jornalismo e de todo o sonho que viria com ele, entendi, assistindo a um filmezinho despretensioso*, que "tentar ser [bem sucedido] como um homem, seria desperdiçar uma mulher": sensacional, isto aí - adorei a sessão, inclusive - e cheguei a provocar estes "quereres", como diria Caetano, no "Mulheres que o quê"?.

Com o tempo livre, em busca dessa coisa que eu não sei o que é, nem você, nem ninguém, e por isso somos tão insatisfeitos, encontrei, virtual e fisicamente, várias pessoas na mesma situação que eu - em grande parte, jovens. Dezenas de amigos, colegas, conhecidos, irmãos ou filhas de alguém que não sabem o que fazer com a graduação, com o trabalho, com a rotina, ou com as aptidões. Com as escolhas que fizeram lá atrás. Ou no ano passado.

Comecei a pensar - pois é!; ócio criativo! - e a concordar, em partes, com aqueles que dizem que "nossa geração" é uma "geração perdida". Nem tanto ao mar, nem tanta à terra, e salvemos nossa (vã) filosofia, fico querendo saber se um dia vamos diminuir esta pressão em fazermos algo para sermos alguma coisa daqui a algum tempo, que não sabemos quando é e nem o que é, exatamente.

Se há quatro anos eu mudava de atividade, emprego, ou que seja lá que nome for e hoje me encontro assim, quiçá há 10 anos, quando fiz um "x" num papel que me trazia a opção que me parecia ser... sei lá o que: glamourosa? 

Dias atrás, durante o Carnaval, encontrei outras pessoas interessantes, algumas mais novas ainda, do que eu. Uma delas eu sabia que tinha sido capa de uma Revista de Negócios no Brasil e protagonista de n reportagens sobre "vencer os processos de trainee" de grandes empresas. Curiosa, fui toda-toda, durante um intervalo entre-blocos do Carnaval do Rio de Janeiro, perguntar ao "garoto", como estava a vida dentro da vitrine - e eis que veio:

- Ah, Babi, pedi para sair da empresa: nada a ver!
- Mentira! Sério? Como assim? Para quem está de fora, lá dentro sempre me pareceu ser tão legal! - e foi tudo o que consegui dizer, até que ele explicasse as considerações.

Acho que esta conversa foi quase uma gota d'agua para eu conectar em linha os últimos pontos:

- As tais características A, B, C, D e etc da geração Y trazem algo mais: elas vêm com frustrações de gerações que não tiveram tanta opção de escolha, mas sobretudo, não tiveram o privilégio de sentir o que seria melhor para si e para quem quer que fosse - acho que a Antroposofia está de volta e os jovens, principalmente, estão famintos por resgatarem a teoria de que são/somos de fato "seres espirituais passando por uma experiência humana", e que ser feliz e saudável e responsável socialmente faz parte do todo, de um conjunto, de um objetivo além de fazer dinheiro - por si só;
- A propaganda e a venda da idéia de um "mundo dos sonhos" em uma instituição, seja empresa ou não, é também efêmera: o discurso das palestras, a imagem dos cartazes precisam ser sustentados diariamente, senão,  sentindo-se "enganados", os jovens das características-mil se vão mesmo;
- Os mecanismos atuais para manter alguém a médio ou longo prazo se torna cada vez mais intangível: "os seres espirituais" querem liberdade para decidirem, confiança para participarem de compartilhamento de informações, "incivilidade", retorno sobre como são e como agem. Querem(os) sentir que somos tudo aquilo que disseram que éramos ao passarmos pela tal vitória dificílima do processo seletivo - quase um novo nascimento, porque não deixa de ser um começo: não basta ser capa de Revista, tem que participar.

A questão de listar que a força de trabalho é de certa maneira resultado de adjetivos pomposos e bonitos não satisfaz: mais do que ser, é preciso estar: estar motivado, interessado, contribuindo, sendo e deixando de ser, recomeçando, recriando, ouvindo, sendo direcionado. Tendo referência e exemplos positivos. Proximidade. Acompanhamento. Perspectiva. Coerência - aliás, os "RHs" poderiam acompanhar o "pós-venda" do Processo Seletivo; talvez "descubram" os gargalos da famosa "taxa de retenção" e a insatisfação do "gasto x retorno satisfatório obtido". Ou melhor, talvez fotografem o pulo-do-gato, vendido como lebre, e gerencialmente envolvam as lideranças todas a serem aqueles dos cartazes e dos vídeos institucionais promovidos.

Se é verdade - e eu particularmente acredito que seja - que "as empresas contratam por curriculo, mas demitem por comportamento", diria que as pessoas selecionam pela aparência, mas se constroem coerentemente pela essência - principalmente por aquela, que já compartilhei também, do Saramago: de fazermos, o que quer que seja, simplesmente para que ecoe pela eternidade - as empresas se mostram nas vitrines, muitas vezes de luxo, mas apresentam algo paupérrimo e acaba se tornando passageiro: o tempo trouxe com suas mudanças a inversão da ordem e da lógica de quem captura e de quem é capturado.

Mais uma vez, curiosa e surpreendentemente, isto me faz voltar ao ponto de partida e ao que se torna, do meu ponto de vista, o desafio e a resposta para o tal futuro, tão comentado, mas ainda descolado do nosso dia-a-dia e da nossa prática cultural de ser para o trabalho:

Empreendedor [1 Que empreende. 2 Que se aventura à realização de coisas difíceis ou fora do comum; ativo, arrojado. sm 1 Aquele que empreende. 2 Aquele que toma a seu cargo uma empresa].
Michaelis. 

Enfim, como o que mais importa não é a resposta, mas a pergunta, depois de nos termos tornados médicos, professores, bancários, analistas, autônomos, concursados, administradores, engenheiros, técnicos, discriminadamente "nada", jornalistas, publicitários, zootecnistas, agrônomos, especialistas, generalistas, diretores, gerentes, aposentados, astronautas, pilotos, atores, escritores, cineastas, cantores, burocratas, policiais, músicos, palhaços, políticos, advogados, juízes, malabaristas, sociais, trainees número 1, vestibulandos, estudantes, amadores, adultos e tudo o mais, enfim, nós fomos, somos e realizamos o que - mesmo?

*Não sei como ela consegue

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Um ensaio - do que adianta a minha e a sua?

 "(...) Rapidamente vêm novas turbulências, revelando motivações humanas muito diversas, mais obscuras, mais familiares, e voltamos a nos perguntar se nossa espécie, por assim dizer, não atingiu o limiar de sua incompetência moral, se continua a avançar ou se não deu início a um movimento de regressão que ameaça recolocar em questão aquilo que tantas e sucessivas gerações se esforçaram para construir".

Este é um trecho do livro "O mundo em desajuste - quando nossas civilizações se esgotam", do Libanês Amin Maalouf, publicado pela primeira vez em 2009, mas que poderia ser, facilmente, o primeiro parágrafo de qualquer primeira página de jornal do Brasil hoje ou ontem - e porquê não, do mundo?

Uma mulher é morta pelo marido (supostamente) na casa deles, em um cômodo ao lado ao que estavam os filhos. Na mesa do bar, comentamos sobre as outras suposições, depois que o marido foi encontrado morto (supostamente, suicídio). Entre tantas suposições, nos presumimos que teria sido melhor se ela tivesse sido vítima de uma assalto, sequestro ou coisa parecida. Só depois me dei conta do quanto isto reflete que estamos ficando acostumados em saber de certas notícias e que o que chocava antes , já não choca tanto agora, dependendo da ótica que se olha: uma outra morte ou agressão fica sendo mais do mesmo, diante de uma destas.

Mas um assassinato, qualquer que seja, deve assustar e deve trazer o sentimento de indignção; ou qualquer outra coisa que te motive a fazer alguma coisa - positiva, por favor! -, ao invés de trazer (somente) perplexidade e acúmulo de "mas não foi a primeira vez" e "os números sobem para XXXXX": que números, ô!?

A recorrência com que estas brutalidades vêm gerando notícias  e até  mesmo o volume de denúncias de corrupção que caracterizam a nossa história e as pessoas que dizem construir o Brasil estão chegando a banalidade - são tantos que a gente não se incomoda  (na mesma proporção): "a vida segue"!
A gente se assusta, comenta no bar, mas depois do quarto copo já muda de assunto e só volta a se lembrar dele na hora de dormir, pedindo a Deus que tragédias como estas, e outras, passem longe da minha família. Da sua família. Dos seus amigos. Dos meus. Dos nossos. Amém.

E aí, as redes, que poderiam desempenhar um papel mais social, trazem inutilidades ainda mais banais e boa parte dos indignados desistem da missão, "porque não vai dar em nada" - me incluo nesta, não se preocupem. Às vezes, por outro lado, me sinto como Maalouf  -  o Amin: "(...) Antes de tudo, é simplesmente a preocupação de alguém que ama a vida e não quer se resignar ao aniquilamento que ameaça (...)".

Mas aí, no fim da contas mesmo, eu faço das palavras da Ruth de Aquino em "A palavra e o sexo" (Revista Época, 23 de Janeiro de 2012) as minhas: "(...) Mas de que adianta a minha opinião?".
*Não adesão à nova regra gramatical.