quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pedido(s)



Nas últimas semanas, duas das minhas melhores amigas receberam um pedido, enquanto eu realizava outro. Dar versus receber: eterno dilema de limite e intensidade dentro do que entendemos sobre o "pertencimento". Elas "foram pedidas" em casamento: eu pedi demissão.

Unir versus separar; por que não?

Não sei ao certo o que cada uma delas aceitou a se unir, mas eu me permiti afastar de um tipo de vida que atualmente não corresponde a uma busca: e eu, que sou uma pessoa preenchida por expectativas - altíssimas, inclusive - não tenho nenhuma. Zero. Estou em constante estado de meditação desde o dia em que pedi ruptura de contrato e devolvi a aliança: "nada" na cabeça.

Essas semanas já viraram mais de mês e a separação não virou divórcio - sabe como é; machuca ambas as partes e, mesmo não havendo filhos, há viagens, porta-retratos, contas a dividir -  matemática não é meu forte - mas nada litigioso: somos bem civilizados, Amém!

Conversei com muitas pessoas - para variar - de tudo quanto foi meio, maturidade, casadas, solteiras, divorciadas, viúvas, aposentadas, idosas e a grande maioria se espantou quando disse que pedi tempo do estilo de vida e não do trabalho, das pessoas, da empresa, da atividade meio ou lugar. E algumas delas me provocaram em reler textos meus, de tempo recente: nem tão grata, mas surpresa, fiquei ao ter certeza de que estava no caminho que falei que sempre gostaria de ir e estou dando passos para trás, desacelerando a realização "disso tudo".

Achei ótimo que a formação social hoje nos permite desconectar daquilo que estivemos conectadas "sempre": Da mesma forma que uma católica se converte ao islamismo, um roqueiro vira pagodeiro, um senhor casado com filhos se revela homossexual, uma dona-de-casa se revela uma senhora empreendedora, uma professora se revela uma péssima influência política, eu pude desdizer o que disse e que, está escrito!, não necessariamente infringiria meus valores - era só mais uma decisão que pode ser refeita, logo ali adiante.

No apanhado das conversas, músicas, leituras, releituras e pesquisas, acho que este passo vai ser um pouco além do que pensado do princípio. 

Para ser ainda mais brilhante isto tudo, revi, sem programar, (o Filme) Comer, Rezar, Amar e resolvi repassar o que escrevi, quando li o Livro a primeira vez: o ciclo está voltando para o mesmo ponto de interrogação, mas de uma forma mais madura.

No fim das contas, e agradeço imensamente o apoio do meu ex-compromisso (leia-se relacionamento com  várias pessoas - ah sim! não praticava a monogamia), é tempo de semear!

"A colheita é comum, mas o capinar é sozinho", [João] Guimarães Rosa. 




domingo, 18 de setembro de 2011

Mulheres que o quê?

"Torna-te quem tu és", Nietzsche.

Há quase 10 anos, o consultor de empresas Julio Lobos lançava o livro "Mulheres que Abrem Passagem", do qual gosto muito, inclusive.
Me lembrei dele quando conversava com uma das contribuintes ao texto por telefone, 'dias'destes. Entre uma partilha e outra de acontecimentos, voltamos ao assunto e falamos no tal "papel da mulher".

Eu acho que não cheguei a conclusão nenhuma, mas tenho a percepção de que o mundo vai se voltar para a maternidade, pois é para o porto que nos viramos, quando estamos em caos. Para o seguro que se emboca.

Nestes pensamentos, me lembrei também que havia escrito sobre a falsa fragilidade das mulheres e o quão claro isso havia ficado para mim, assim que cheguei na Líbia. Não acho que aquela visão minha tenha deixado de existir, mas do lado deste ocidente executivo, em que me permiti conviver nos últimos 12 meses, não tenho visto muitas mulheres assim. Aliás, muitas mulheres tenho visto, em todas as funções, pensamentos e anseios. Mas muito poucas, proprocionalmente, naquele contexto maternal, cuidadoso e tranqüilo.

Neste mesmo período de reflexões, durante a leitura do recém-lançado "Feliz por Nada", da Martha Medeiros, ela também pincela o assunto com o texto "Mulheres na Pressão". Dentre outras coisas, ela aborda a competitividade que as mulheres se impuseram para com os homens e as possíveis consequências da perda da "feminilidade", inclusive uma "razão" pelo atual distanciamento que tem sido percebido do conceito de "casamento" ou qualquer outra instituicionalização do relacionamento (duradouro).

Conclusões à parte, acho que passamos a competir sim de uma forma que perdemos o espírito esportivo em algumas ocasiões; nos deixando de ser o que verdadeiramente somos para nos armar, sem desarmar o próximo e travamos uma batalha em que o stress aglomera em todos os níveis de afinidade e relacionamento, independentemente de idade, tempo, contexto, estado marital.

Se as redes sociais falassem mesmo, talvez haveria um efeito feminista ao contrário, que pedisse menos, sem que este choque significasse necessariamente a volta a um machismo - acho que precisamos (nós, mulheres) confundir menos as coisas e torná-las mais simples e claras e simplesmente viver, menos atordoadas, sob menos pressão, abrindo passagens sem derrubar meio mundo pela frente.

Como se tudo isso não fosse suficiente, a McKinsey esta semana publicou o artigo "A mudança do pensamento corporativo sobre as mulheres". Pergunto: será que mudou mesmo? As corporações mudaram porque as mulheres mudaram ou a mentalidade dos homens mudou ou de tudo isso um pouco?

Ainda sem conclusões - ainda bem, não acho que tenhamos que voltar ao tempo da minha avó também não; ao mesmo tempo, acho que podemos desacelerar o processo de querermos "ser eles" e resgatar o instinto maternal e a cautela - com o mundo, sobretudo.

Há de se começar algo novo, de se resgatar os textos de 10 anos atrás, antes que as passagens abertas nos levem para outro lugar, que jamais imaginaríamos ir. E, principalmente, donde talvez não consigamos voltar.

sábado, 3 de setembro de 2011

ME-DO

Desta última vez que pedi um táxi para ir ao Aeroporto de São Luís, rumo a mais um encontro com o interior do Maranhão e do Pará, o motorista que foi à minha casa me assustou um pouco: manobrou, sem saber - espero eu - ao lado do meu carro - saberão - e disse:

- Renault. Sandero. Dezesseis válvulas: Deus me livre!
- Por que, moço?
- Além de ser um carro horrível, não tem bom preço para revenda.
- Como assim??
- O meu (Parati) é oito válvulas, ou seja, se eu gastar mil reais de conserto, aquele gasta dois; se eu gasto dois, aquele gasta quatro; e por aí vai.
- Ok, mas me dá mais exemplo.
- É que carro dezesseis válvulas esquenta muito o motor e aqui já é quente. (Quase falei, jura?? Não!!). E ele continuou: Se você liga o ar condicionao, quase triplica a temperatura e aí vaza tudo, até óleo.
- Ah, tá. Mas que beleza de carro então, hein?
- Pois é! Tem uma cliente minha, de Belo Horizonte (gente, pára tudo!: Que taxista é este?) que comprou um Citroen C3 aqui por trinta e nove mil reais, em 2008. Foi revender agora e sabe qual foi o melhor preço que ofereceram para ela?
- Nem idéia!
- Dezesseis mil!
- Ave!
- Éééééé! Aí ela pagou mil e quinhentos reais em uma cegonha e mandou o carro para BH, para tentar revender lá. Sabe como é né? Sudeste é bem mais frio, então o dezesseis válvulas lá não é tão ruim.
- Ufa! Tomara!

Acho que nunca me interessei tanto por carro, como naqueles trinta minutos.
Chegando ao Aeroporto ele me deu o cartão dele e quase que eu falei "Deus me livre!": Tá sabendo demais este cara.


sábado, 13 de agosto de 2011

Páginas

"Escrever é fácil: Você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as idéias". Pablo Neruda

O último fim de semana começou como páginas em branco: não havia nada. Nem previsão, nem expectativa, nem cronograma ou calendário. Poderiam existir algumas idéias. Mas elas não estavam em nenhum lugar. As personagens e o cenário não estavam definidos, embora houvesse indicações.

Sabíamos apenas que três pessoas fariam uma reportagem sobre o entorno do nosso Projeto, começando por São Luís, no Maranhão e que, depois do fim de semana, seguiriam pelo interior do Estado, até chegar ao Pará.

Durante a semana, entre e-mails e uma conversa por telefone, não prestei atenção no chamado ou na oportunidade. Simplesmente, respondi às perguntas deles quanto ao que teriam para registrar, em que hotel poderiam se hospedar e quais imagens poderiam retratar.
Grata a surpresa!

Eram três criaturas interessantíssimas: um fotógrafo jovem e muito inteligente, que já foi a lugares que nunca ouvi falar - ok, não sou muito parâmetro para Geografia, mas mesmo assim, as passagens dele são atrevidas; um cinegrafista, quase que de meia idade, charmoso (e que ele não acesse este texto), com uma pauta pessoal de assunto, desde música a política que não despertava cansaço em nenhum segundo de conversas aceleradas; e um jornalista maduro, com seus quase 70 anos de idade, 40 de profissão e passaportes que carimbam visita a 59 países somente para coberturas jornalísticas: sen-sa-cio-nal!

Compartilhamos várias experiências e diferentes olhares sobre a mesma prática, veículos [midiáticos], países, comidas, músicas, culturas e éramos três gerações vivendo e reportanto, literalmente, o mundo.

Nos dois dias conheci uma São Luís totalmente fora do meu mundinho-bolha-isolado, imerso em uma redoma de vidro embaçada, mas que me confirmou muitas críticas e observações pessoais.

Ao final do Domingo, estava verdadeiramente em pó, mas com uma mente sólida de decisões, mais uma vez.

Seria curioso, senão proposital, que esta nova certeza viesse aos exatos 01 ano de São Luís; mas o sentido que eu dou é aquele que me convém - e devo ter reforçado isso no Jornalismo também que, adormecido, despertou como uma criança faminta e um vulcão em erupção: "É decidindo que o homem se constrói". Desconhecido.

sábado, 23 de julho de 2011

Mais uma volta

Mais uma volta por aí. Pelo Brasil.
[Na capital do] Maranhão, em um salão de beleza:
- Boa tarde! Há horário livre por agora, para fazer mão e sobrancelha?
- Tem sim!, pode ir adiantando a sobrancelha.
Me assento na cadeira. E vem uma moça. Fecho os olhos e, ao começar, ela diz:
- Você não é daqui não, né?
- Não.
- Ah, logo vi.
- Por que?
- Porque você é bonita. Muito bonita. Tem o rosto perfeito, ó.
- Obrigada (E que Deus nos abençoe).

No interior do Pará, embora a cidade esteja sendo sondada para virar capital:
- Por favor, traga esta (apontando para o cardápio) porção de bolinho de bacalhau.
- Ih meu sinhô; isso aí num presta não.
(todos riem).
- Como não presta?
- Ih, ontem pediram e reclamaram. Umas duas mesas. É que a gente compra congelado e deixa aí.
(todos riem mais).
E o cidadão continua.
- Mas é ué. Se eu num fô sincero, ué, tem que falar a verdade né? Depois vai que dá pobrema!
- Tá certo. O que você aconselha?
(Ele coça a cabeça, suspira, olha para o cardápio...)
- Pasterzin?
(riem todos)
- Ah não!, pastel é muito comum! Tem alguma coisa aqui que podemos pedir?
- Ó, eu num sugiro não, porque se dé pobrema, vai dar prejuízo, igual ontem.
- Ok. Se pedirmos carne com fritas, presta?
- Ah presta!, nóis faiz na hora.
- Sem prejuízo?
- Sem prejuizo, dotô.
(e ele sai rindo).
Até hoje, não deu pobrema. Também acho que prestou.
No interior do Maranhão, desta vez:
Pessoas sem sapato, de chinelo, sem capacete, em cima de uma moto, com mais dois, três. Meninas dirigindo carros sem saber dar ré, gritando no meio da "rua" para alguém ajudar, e eu:
- Você não tem carteira não?
- Eu não, pra quê?
Todos sem nada.

domingo, 26 de junho de 2011

Paris por Líbia

Leia ouvindo A Flor, Los Hermanos



Fez um ano que voltei, que saí de lá e meses que procuro saber sem retorno. Nem e-mail, msn ou as tais redes sociais.

Esta semana, tentando me desprender, troquei um pingente meia-lua e a mão-de-Fátima que ganhei de uma Líbia muito querida, a quem conquistei e fui conquistada, da qual a despedida foi uma das mais difíceis de superar, porque o inglês arrastado dela não conseguia dizer o nosso "adeus"; somente o goodbye dos norte-americanos. E, na verdade, vai saber se não ia voltar né? Se a Índia, China, Laos e Camboja viraram um destino (quase corriqueiro, diga-se de passagem), porque não pode vir a ser o deserto do Saara por aqueles lados e, portanto, uma parada em Tripoli, quem sabe. Mas de fato, não prometi nada e respondi "tchau" como um "adeus" e abraço forte.

Sob o aspecto da simbologia sintomática, na troca de pingentes, coloquei uma mini-delicada Torre Eiffel, que mamãe trouxe para mim, porque ela além de saber, viu o tanto que sou fascinada com a e pela cidade Luz - (boa) energia daquelas praças, parques, céu. Pela movimentação de pessoas.

Ali e no Vaticano o mundo se reúne, com ou sem véus, cada um com sua crença, apenas para admirar.

Junto ao meu escapulário, agradeci por mais um dia e ao desligar o telefone pessoal, para dormir, me deparei com uma chamada não atendida, que perdi enquanto estava na academia - pois é, recomecei mais uma vez. Nome? A "menina" Líbia.
Aquele encontro do meus olhos, com os dedos e a tela me deu uma sensação indescritível e lamentei não conseguir retornar a ligação. Passei a outra semana tentando falar, mas não havia sinal - lá.

Exatamente neste período, eu lia "O Pequeno Príncipe" e ao me deparar com o contexto que divulgou frases clássicas, de forma solta - o que me lembrou Shakespeare, inclusive, que há anos não leio/releio - entendi, de novo, mas de maneira diferente, a tal da escolha na vida e o significado daquilo que Steve Jobs chamou de "os pontos se conectam":

"Se alguém ama uma flor da qual só existe um exemplar em milhões e milhões de estrelas, isso basta para que seja feliz quando a contempla. Ele [Pequeno Príncipe] pensa: 'Minha flor está lá, nalgum lugar...'

O que é importante, a gente não vê ...(...)


- Será como a flor. Se tu amas uma flor que se acha numa estrela, é doce, de noite, olhar o céu. Todas as estrelas estão floridas. As pessoas têm estrelas que não são as mesmas".

Além de ser fantástico que isto leve ao "O essencial é invisível aos olhos" e que "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", tudo bem "trocar" a Líbia por Paris, a Torre pela meia lua e pela mão-de-Fátima, a flor (e a "menina Líbia" é de fato uma) por uma estrela-luz, porque será, como outras, para mim, uma única, mesmo que dentre milhões.

Hoje, nesta elucubração toda, sendo Domingo, dia de saber o que se passa pelas tais redes sociais, me alegro imensamente com uma mensagem de outra Líbia, que andava sumida há meses, com o registro de um número da Tunísia. Liguei e consegui falar, por poucos minutos, e que, embora a grata surpresa de que fisicamente ela estivesse bem, mesmo que "refugiada", confirmou a triste situação de irmãos desaparecidos, família separada e, sobretudo, que Tripoli virou uma cidade fantasma, em que as pessoas não têm o que comer, em que só se ouve bombardeios e só se vê corpos pelo chão.

Confidenciei que não conseguia imaginar tal como descrevia e a ligação caiu. Era mais uma [rosa] no meio de milhões e uma estrela entre tantas.

Por mais que o Pequeno Príncipe tenha concluído que os homens [grandes] são súditos, admiradores, que não sabem ocupar seu lugar na Terra, que não têm imaginação como as crianças, que têm fuzis e caçam e que não têm tempo de conhecer outras coisas, ou de fazer amigos, eu prefiro ficar com o fato de que podem ser "[As pessoas grandes são] mesmo extraordinárias".

domingo, 22 de maio de 2011

Ser essência. E muito mais.

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o queé seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor (...)". Amyr Klink

Nesta última viagem tudo foi diferente, embora tenha sido por mesmos lugares. Passado já passante. Eu, meu pai e minha mãe e uma ansiedade de primeira viagem, literalmente. O oceano nos separava, grandemente, e até eu achei que fosse a minha primeira também: me ansiava por eles.

Paris me surpreendeu pela super lotação e pelo calor. Triste. O Sena e os Jardins nesta primavera febril já não estavam tão charmosos. Mas ainda assim, foi Paris! A Itália estava ainda pior e talvez pelos itailanos - e os legais que me desculpem, mais uma vez. Da mesma forma como a primeira, comer foi em quantidade e passou a léguas de distância pela qualidade brasileira: ainda acho (embora não faça um arroz bom) que o Brasil reuniu o que há de melhor na culinária e aprimorou; salve salve os temperos! Mas confesso, me permiti ficar entediada por alguns dias, mesmo que não seguidos. Senti falta de leitura em tanto lugar que transpira e te faz inspirar antes.

Coloquei meus objetivos ideais no papel de forma mais pragmática e consegui expor para a Milinha. Ajudou bastante, mas ainda falta.
Ser essência e muito mais.

Não li ao longo do caminho, mas antes da entrada no primeiro avião, andando pelo saguão do primeiro aeroporto que vai para a contagem das andanças de volta ao Brasil, me deparei com um encontro veicular novo: uma tal de Lola. Comprei por trazer, na capa, uma chamada de uma entrevista feita por Martha Medeiros - ok, não precisa, mas vou confirmar: sou fã!
A conversa foi com a Patrícia Pillar e foi branda, sem furos de reportagem ou revelações. Em se tratando de MM, esperava mais; e o que me surpreendeu mesmo foi uma outra entrevista, já no caminho do finalmente das páginas, com Nélida Pinõn - gostei da revista. E, se o livro"O Presumível Coração da América" trouxer a inflamação que as falas provocaram a mim, lerei assim que for publicado - previsto para Junho/Julho. Ainda, não poderia esperar que esta porta de entrada de reflexão casaria tão bem com a Europa que encontrei, refletindo exatamente o posto por ela, em que o conflito do mundo atual é extraordinário: "todo mundo com medo, fingindo que é euforia".

Do lado de lá, assistindo à BBC ou CNN percebi claramente isto e então me consumia com as idéias em fazer alguma coisa. Me debatia em vontade de ter notícia dos meus amigos e amigas Líbios - ainda em vão.

De volta, ligeiramente entediada com os aeroportos que estavam por vir, sem ter lido uma frase ao longo dos dias, me entusiasmei com o "Sex. Lies. Arrogance. What makes powerful men act like pigs*. *No offense"; capa da Time. Me deliciei com os chamados, mais uma vez. Vez ou outra parava para pensar, olhava para o lado e, no fim das 12 horas no ar, o mocinho do meu lado, em quem rapidamente tinha reparado, puxou papo sobre a capa e o que mais tivesse ali.

A cada viagem um encontro desses. Pessoas, pessoas, pessoas. Ler, ler, ler. Tudo uma viagem só, em momentos e lugares que percorrem com sua mente, onde quer que se permita levar.
Minhas anotações por enquanto ficarão no papel, o mocinho no email e a revista ao lado da cama. Vez ou outra consulta-los-ei em momentos de inspiração ou dúvida.

Aos meus pais, foi incrível. E à Europa e ao mundo, desejo sorte e mais passantes por aí, para observar e tentar fazer diferente.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Quando uma coisa desperta outras coisas

Transeunte [Do lat. transeunte, ‘que passa’. 2.Que vai andando ou passando; viandante. 3.Indivíduo que vai andando ou passando; passante, caminhante, andante, viandante]. Dicionário Aurelio.




São quatro anos fora de casa. Foi uma celebração de quatro anos em que nossas vidas se cruzaram. Éramos todos solteiros e sonhadores com um sonho em comum. Vivíamos em uma casa compartilhada entre nossas vidas que se alojavam sob um mesmo teto e muitas vezes a mesma cama. Uns dormiam de meia-noite às seis e eu mesma já dormi das seis às nove, por exemplo, algumas vezes.

Neste último fim de semana nos encontramos sob a benção de Deus, para o casamento de um deles que, ainda ou embora sonhador, só não é mais solteiro: nos últimos dois anos fui convidada para - dentre outros - cinco importantes casamentos e este foi o único em que consegui ir, face a situação de agenda x distância.

Neste caso, a linha era extrema: fui de São Luís, no Maranhão, para Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Nove horas de tudo, por trecho. As mais longas, esperando o embarque. Em Guarulhos, São Paulo, horas a fio, sem previsão, com o aeroporto de Porto Alegre sem teto para pousos, pensei, sem querer, sobre o Brasil de hoje, de quatro anos atrás e o dos quatro anos próximos. Ali, vendo tantas pessoas circularem, vindas de tantos, variados e diferentes lugares, carregando tantas histórias; lembrei de algumas minhas e assutei quando somei mais de 68 paradas em aeroportos desde que voltei da Líbia, em Julho. Pergunta: para quê? - Quais são essas facilidades tecnológicas que teletransportam e ao mesmo tempo te afastam?

Elucubrações à parte, eu, definitivamente, não quero estar transitando por aeroportos nos períodos festivos que compreenderão a Copa das Federações, do Mundo e Olimpíadas. Se neste fim de semana, fora de temporada, quase me irritei com a ordem caótica das coisas, com atrasos mal informados, atendimento confuso - coitado dos gringos! - infra-estrutura precária e abuso dos preços:
- Moça, por favor, dois pães de queijo, um capuccino e um chá gelado, por favor?
- Dezessete reais e cinquenta centavos, senhora.
Imaginemos quando a brincadeira começar?

Dentre tantas passagens que fiz, em trânsito, diria que Porto Alegre superou qualquer expectativa, não só pelo aeroporto, mas pela cidade e pessoas. Ali é outro Brasil, para mim. Outro nível de civilização: os maranhenses legais e respeitosos que me desculpem - de novo - e que não levem este comentário pessoalmente - mas eu avisei no início do texto: são opostos extremos!

Para a viagem de Porto Alegre a Santa Maria foram cinquenta reais para um ônibus luxuoso, com TV de bordo individual, cadeira (bem) reclinável, sob um asfalto seguro: seguríssimo.

Contra-pontos deixados de lado, mas não esquecidos, em breve, mais cinco aeroportos - talvez três desconhecidos - entrarão para a lista de "ser observado", porque mais uma viagem vem aí.

No fim das contas, dessas continhas, é preciso criar e abraçar oportunidades de encontrar pessoas, conhecer lugares e renovar os sonhos; não necessariamente desconsiderando, mas atribuindo menor importância aos percalsos: será que a gente consegue?




"A vida é como andar de bicicleta: para manter o equilíbrio é preciso manter o movimento". Albert Einstein


quinta-feira, 21 de abril de 2011

Simplicidade

É notório e registrado, pelos meus textos, que eu adoro pessoas simples. Elas ensinam facilmente sobre felicidade, superação, graça e leveza. Sobre o nosso papel em servir e apoiar o próximo. Gosto muito de interagir com estas pessoas. Mas aqui em São Luís, na repetitiva vida "casa"-trabalho-"casa/academia", nunca me encontrei com a moça que faz a limpeza e, na verdade, não sei se é uma ou se são várias que se revezam. Nome e cor do olho então? Não faço idéia. Ainda, com minhas idas e vindas semanais, para BH, São Paulo, interior do Maranhão, Pará ou onde quer que seja, menos ainda. Fico pensando o que é que elas devem pensar: raras as vezes o quarto precisa ser arrumado e raríssimas vezes há resquícios de que me alimentei por ali: guloseimas na geladeira então, nem pensar! - as últimas duas vezes que tentei, com o calor daqui, as coisas se perderam rapidamente e o destino foi o lixo, dolorosamente.


E aí, um dia, à noite, cheguei em casa e encontrei este bilhete* em cima de uma mesinha, na cozinha, que me fez lembrar muito de um episódio que vivi na Líbia:







*Tiro foto de quase tudo mesmo. A fotografia é um momento para se por em uma página. E "os fotógrafos tentam contar histórias de um jeito provocativo e imediato".


Considerações simples como esta e como as da "moça Líbia" de fato me encantam e me mantêm crente na espécie humana, por mais difícil que isto nos pareça: Boa Páscoa às Francinalvas e às moças e moços que tentam ser melhores naquilo que fazem. Para si e para os outros!






terça-feira, 5 de abril de 2011

As coisas não são

"Existem muito mais coisas para vir à luz do que nós percebemos". O Poder do Agora, Eckhart Tolle

Desde que os movimentos revolucionários começaram no Egito, comecei a me preocupar. Naquele país vivia uma amiga minha brasileira, a trabalho. Outros, sabendo da tensão e da possível dificuldade dela em sair, se uniram para captação de dinheiro, para comprar uma passagem - naquele momento, caríssima - para que ela voltasse. No meu mundinho-Sáo Luís casa-escritório-casa, sem muitas leituras de jornais, nem mesmo acompanhamento das teles, não me envolvi muito; até que fui a São Paulo e a primeira coisa que um grupo de pessoas me perguntou foi "E se a moda chegar na Líbia, hein?". De forma muito objetiva disse que não chegaria, devido à mentalidade diferente dos líbios e pelo o que eu tinha aprendido do direcionamento que a política colocava na sociedade, sob a justificativa religiosa: engano! Dias depois, lá estava Tripoli, a cidade na qual morei e que foi pano de fundo para um momento único da minha vida, do qual nunca vou me esquecer, irreconhecível. No Jornal pela tevê, lá estava a Praça Verde destruída. No meu e-mail, perguntas sem respostas. No meu skype, ligações encontraram celulares sem sinal. Foram dias difíceis e até hoje não entendo isto muito bem: quando foi que tudo acabou? E as pessoas? Em que medida elas "estão bem"? Mesmo "falando" com algumas, eu revejo fotos, vejo e leio jornal, e não reconheço mais. Eu saí da Líbia depois de ter ultrapassado meu limite de equilíbrio e desgaste emocional. Estava esgotada e abdiquei muito da boa sensação em deixar saudade nas pessoas que se deixaram conquistar por uma mentalidade tão diferente, que é a minha. Pelo jeito peculiar de ser do Ocidental. Pelo charme especial e único de ser Brasileira (o). Pelo compartilhamento daquele cenário e da vivência com pessoas que seguiram, assim como eu. Por apoiar e contribuir, em coragem e força, para a certeza de que sair dali era muito mais do que voltar para algum lugar. Sinto algo sobre isso tudo. Um alívio pela retirada, mas uma incerteza do que ficou. Dos Líbios que ficaram. Não merecem e não deveria ser. Achava que sabíamos disso tudo, na verdade, mas quanto mais as "coisas" acontecem, mais certo é que não sabemos "coisa" alguma.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Pesado

"O que se faz agora com as crianças é o que elas farão depois com a sociedade." Karl Mannheim

Parti mais uma vez para o interior do Maranhão e Pará, com outros olhares, experiências e companhias. Éramos quatro: Dois de Recife, que na verdade representam São Paulo, e uma de São Paulo, que trabalha no Projeto comigo; ou seja, representava São Luís.

Diferentemente cansativa, a viagem foi aquela mistura de avião, carros e caminhonetes; estradas de asfalto esburacadas; estradas de terra e lama - um bom teste para minha coluna.

Academia abandonada, carro na garagem e aluguel sem muita razão, segui para o cumprimento de uma agenda que não se designava a mim propriamente: me vi no bastidor de uma pré-estréia, entre re-encontros, novos encontros, mesmas pessoas, conversas diferentes e a certeza de que amadurecemos e somos um pouco "outros".

Assim, sem o protagonismo anterior, me esforcei para os eventos sociais e me abri às oportunidades específicas de cada localidade, onde uma mereceu este compartilhamento:

No Sábado, pela metade da manhã, fui participar de uma ação da nossa empresa e cliente com as crianças de uma das cidades-base do nosso Projeto, no interior do Maranhão. Foram montadas gincanas em um ginásio abandonado, mas limpo para a alegria, e havia 500 delas reunidas, infelizmente, entre a miséria e a carência: e "dessa vez, me pegou de jeito".

Além de observar todos aqueles olhos a procura de afeto, sem muito jeito para brincadeiras, como se aquilo não os pertencesse, quis adotar fortemente uma menininha linda, moreninha de cabelo castanho claro, com pontas loiras, queimadas de sol, pele também, com uma bola de futebol de plástico entre os dez dedos curtos e fofos, a procura de alguém.
Tocava Xuxa e até achei a energia boa, quase voltando a gostar dela.
Peguei a baixinha pelo ante-braço (porque ela não largava a redonda) e comecei a dançar. Sou desengonçada, tudo bem, mas dá para acompanhar uma quebrada. Do jeito que estava, a figurinha de vestidinho rosa e sapatinho vermelho se manteve.
Me olhou por mais alguns segundos, com um semblante "eu, hein, tia?", e saiu. Continuei a olhá-la. Passei a acompanhar um outro círculo de brincadeira (dança da cadeira) e a perdi de vista.
Em alguns minutos, abaixaram a música e alguém falou ao microfone "por favor, vejam esta criança - e um Voluntário a carregava no colo. Ela está sem mãe. Por favor, observem essa criança e pedimos que a responsável por ela venha buscá-la". Meu coração acelerou, olhei para o pessoal do escritório e todos disseram "a sua menininha!". Fui para onde ela estava e a encontrei chorando, desesperada. Não quis vir no meu colo e ainda segurava a bola forte, como que rezando para que quem quer que fosse aparecesse.
Foram longos cinco minutos, até que uma senhora (ou seria moça e as condições dela é que eram ingratas?) se revelasse como mãe da princesinha, com um outro no colo e outro no ventre. Pegou-a pelo braço, sem qualquer amor, não agradeceu e apenas disse "é minha".

Dei mais uma volta pela quadra e começaram a organizar fila para entregar lanche à meninada: havia uma "pipoquinha doce", do tipo Aritana, mas menor e de embalagem amarela; bolinho de chocolate Bauducco e aqueles refrigerantes "pitchulinha".

Ah!, que sábado inesquecível para todos!

Ainda ao som da Xuxa, vejo dois molequinhos me olharem quase que impressionados. Retribuo com um "oi" e o inevitável apertar nas bochechas (que nada tinham de carne), quando o mais novo me diz, apontando para a bola de plástico que carregava:

- Tia (será que estou mesmo?), tira aqui pá mim.
- Tirar por que? Se tirar este pino, a bola estraga e esvazia.
- Tira, Tia. Quero por ela no bolso para conseguir pegar o lanche.
- Ô fofura, entre na fila, pegue o lanche que seguro a sua bola.

Ele ficou o tempo todo me vigiando, desconfiado. Pegou os pacotes e a garrafinha e perguntou se podia se sentar ao meu lado. Eu estava em pé, disse que sim, abaixei e fiquei olhando-o comer, devorando tudo sem ao menos sentir o gosto, deixando restos entrarem pelo nariz, como se fosse a primeira e última"refeição" da vida.
Ao final, pegou a bola comigo e saiu, correndo.

Acabada a ação, compartilhei com algumas pessoas que até mesmo o cheiro daquela experiência era igual ao que carregava comigo quando fazia mutirão nas favelas de Belo Horizonte.

Depois de toda a absorção devida por todos os rostos e olhos e mãos e bocas que vi, fomos almoçar e, enquanto nos fartávamos, falávamos deles. Comentei também que conheci uma menina de 15 anos, com a segunda filha no colo, de seis meses.
Não se espantaram tanto, porque as meninas daqui engravidam com 12 e 13 anos do pai ou do irmão e que, sendo o fruto feminino, aliciam para outros para "dar dinheiro", porque mulheres não são tão bem aceitas e preferem filhos, que produzem e "dão dinheiro".

Bom, a viagem continua por mais cinco dias e outras três "cidades". Esta foi só uma parada para a recuperação do fôlego, que por alguns minutos eu perdi.

"O mais importante na vida não é a situação em que estamos, mas a direção para a qual nos movemos". Oliver W. Holmes

domingo, 9 de janeiro de 2011

O dez já virou onze

"O homem é um ser incompleto".

Não sei para vocês, mas para mim, 2010 passou como um feixe de luz por uma fresta na janela, logo no domingo de manhã, quando você quer ver se sai da cama para caminhar ou se continua mais um pouco, porque está nublado. Em segundos, muito acontece e o que era já pode não ser mais. A decisão do que seria muda na mesma rapidez em que você decidiu a anterior.

E no ano em que escolhi voltar para minhas raízes, o que deveria ser não foi. Exatamente. Optei pelo inusitado, quando achava que seria conservadora.

Muito não tem sido como planejado e eu já não acredito que tentar preparar as coisas é a melhor forma de se construir o que quer que seja.

Sem planejamento algum, me tornei algo que mamãe várias vezes me disse que eu era: água - adaptável: onde quer que se coloque, ela toma forma.

Não diria que estou 100% assim em São Luís, mas de fato tenho potencializado as coisas boas e, como todo fluxo de água, sigo em frente, sem parar ou tentar retroceder, até que eu entenda que já desaguei no mar.

Sem agenda, voltei para a casa no recesso e nos 45 minutos do segundo tempo, consegui uma opção bem interessante de reveillon que, independentemente do resultado, para mim, seria voltar ao tempo e resgatar mais uma vez o ponto de partida.

Na alegria em um sítio isolado da civilização, as pessoas falaram de planos, agradeceram por 2010, pelas conquistas.

Lembrei rapidamente que nos então 12 meses, eu havia mudado de país, iniciado uma nova perspectiva de vida em um Brasil que mais uma vez não conhecia; decidido comprar um carro; viajar novamente; mas não havia conseguido o principal da devoção que provoquei a mim mesma na virada do nove para o dez: relacionamento.

Mesmo "de volta", respondi menos a e-mails, não me disciplinei para diminuir distâncias usando a virtualidade do mundo contemporâneo, deixei aniversários passarem e, de fato, vi que não consegui voltar a ser o que sempre fui, com tanta gente reunida.

Na verdade, isso não me preocupa tanto, porque se é assim, pelo tempo ou pela escolha, que façamos o bem.

Mas as pessoas naquele sítio, por duas horas, não se contentaram em listar o que foi e como foi, mas de forma pragmática, se propuseram a finalmente começar com que aconteça de 2011 em diante: dividiram as atividades diárias e os projetos mais complexos e demandados em "roda da vida", para que se cruzem e tenham ligação uns com os outros, para que sejam de fato úteis e importantes, deixando o que é mais superficial para ser gozado em menor tempo.

Eu não estava pronta e nem sei se queria pensar em listas de fazer e não fazer, ser tão imperativa; afinal, saber o que devemos e não devemos é quase óbvio; temos conhecimento; a diferença está em tirar do campo das idéias e implementá-las, de fato.

Me provocaram em pensar o porquê então dessa lacuna: "sei, mas não faço". Ah!, nada disso, "preguiça", como costumo colocar. É um tipo de ação a se tomar que não me motiva.

Assim - e como já concordei com Eckhart Tolle anteriormente, em que "pensar virou uma doença" - parei na parte dos feitos em 2010 e decidi, na virada para o onze, que continue como tem sido: a hora em que eu tiver que decidir o que quer que seja, eu vou: a minha roda da vida não tem linha nem cronologia:

"Mantenha seus pensamentos positivos porque pensamentos tornam-se suas Palavras;
Mantenha suas palavras positivam porque suas palavras tornam-se suas Atitudes;
Mantenha suas atitudes positivas porque suas atitudes tornam-se seus Hábitos;
Mantenha seus hábitos positivos porque seus hábitos tornam-se seus Valores;
Mantenha seus Valores positivos porque seus Valores tornam-se o seu Destino".
(Mahatma Gandhi)
*Não adesão à nova regra gramatical.