domingo, 25 de julho de 2010

Do bleh ao uhu!

Analfabetismo Funcional [Pessoas com menos de quatro anos de escolarização não possuem as habilidades de leitura, escrita e cálculo para fazer face às necessidades da vida social dos nossos tempos. Por esse padrão, cerca de 800 a 900 milhões de pessoas no mundo jamais poderão cumprir algumas tarefas simples e corriqueiras em sua vida pessoal e profissional, tais como: ler uma estória infantil para seus filhos, cozinhar seguindo uma receita, ler (e entender) um jornal ou uma revista, entender as instruções de montagem de um brinquedo, consultar o menu de restaurantes, ler os ingredientes de uma embalagem de alimento ou remédio, ler o rótulo de um produto de limpeza, preencher um formulário de emprego, entender suas contas de água, luz e telefone, ler as instruções de segurança de um equipamento, etc]*1991 - União Brasileira de Escritores (www.brasileitor.org.br)

Cheguei da roça na euforia, contando os casos e o quanto me diverti ao ouvir as pessoas conversando comigo:

- Fia, se tu querê, tem mais comida (...).
- Ih quando tu teve os pobrema da coluna, tu fez inzame? Real X?
- Se tu querê, tem vinho. Mas embebeda, moça!
Sou fã da simplicidade, do trato sincero, do acolhimento.

Depois do afago familiar longínquo, voltei para a banda original e liguei para a Líbia, para saber se algo tinha acontecido durante aquela semana de refúgio, já que meu e-mail não trazia nenhuma notícia daquele lado.
Felizmente, me deram atualizações e, no dia seguinte, recebi outros telefonemas que giraram em torno de dois Santos-destino: Paulo e Luís.

Paulo é sempre interessante, moderno, criativo, diferente. Luís é desconhecido, embora tenha uma pitada curiosa.

Optei por Luís que trazia em si um desafio e uma oportunidade profissional que naquele momento Paulo não poderia iluminar.

Na quarta-feira, quando tudo foi claramente entendido, ouvi:

- Bárbara, preciso de você amanhã aqui.
- "Amanhã"... é quando?, perguntei.
- Segunda-feira.

Naquele êxtase inesperado, com tudo tão rápido, fiz de tudo um pouco: continuei a descansar, fique com a família, amigos; foquei no pilates, mala e tentativa de entendimento sobre morar em São Luís, no Maranhão. Longe. Mas Brasil.

Não consegui nada de muito otimista e a realidade me pareceu muito realista.

De novo, optei por não ouvir nem ler tanto sobre tudo e tirar minhas próprias conclusões: parênteses para os Lençóis Maranhenses: Opinião sobre visitá-lo é unânime!

Assim, mais algumas horas de vôo e diria que a Ilha do Amor e do Reggae não me recebeu da melhor forma possível e as pessoas até agora - da região ou não - foram menos solícitas do que o esperado.

Desanimada nos primeiros dias, literalmente perdida e já com aqueles questionamentos insistentes, saí do "bleh" para o "uhu", depois de uma conversa e um fato:

A primeira conversa de trabalho, propriamente, fez meus olhos brilharem, pelo desafio, crescimento, aprendizado escancarado, que era só pegar, porque já estava ali: complexo e a minha cara!

Dois dias depois, o cliente reuniu todos do prédio - to-dos - para refletir sobre um acidente que tinha acontecido em outro país, questionando-nos a importância de cada indivíduo, em qualquer lugar que se esteja.

Em um debate-aberto, falamos do quão grave os riscos se colocam, quando estamos em locais como Maranhão: mais de 40% da população é "analfabeta funcional".

Pensei (amos): como uma pessoa lê, entende e, portanto, opera um equipamento de risco; uma máquina; um diálogo; um serviço; a assinatura de papéis; tudo? Como fazem e pensam todas essas pessoas? Como lidam e vivem no dia-a-dia? Como processam e implementam tudo o que pensam? Como é... tudo?

O bleh, combatido pelo uhu!, pelo desafio que, de grande, passou a ser maior, tornou as variáveis não tão óbvias e tornando aparente que, embora Brasil, não seria mais fácil, mas ainda assim, inusitado. Ainda, diferente.

Paradoxalmente me disseram - e confirmei - que aqui se fala o Português mais correto do Brasil e, de fato, observando no dia-a-dia, gostei do que ouvi. Não é tão convidativo quanto foi na roça, mas intrigante a fala versus a escrita. Há chão e coisas além a serem feitas: se querê conhecer, é só vim.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

(Ainda) Somos os mesmos

Na noite anterior à minha partida para o sertão Baiano, fomos para a casa da vovó, ficar juntos, jogar conversa fora, comer coisas boas, tomar umas cervejas em família e rir!
Para compartilhar um pouco de como eram as noites dos meus "fins de semana" na Líbia, levei o narguilê que tomou conta do pedaço e foi a sensação: mamãe e vovó experimentaram os fumos de hortelã e maçãs (verde e vermelha), rimos dos tragos não muito bem dados e do fumaceiro que exalava cheiro bom; reunindo o que estava aparentemente isolado.

Contei um pouco das últimas semanas que vivi antes de voltar e um pouco de casos gerais, bons e difíceis que convergiram para a decisão de revê-los e estar mais próxima.
Rimos da minha imaginação quanto ao que enfrentaria pelo caminho até chegar na roça e diria que desmereceram o meu medo, fazendo um comparativo "Você morou na Líbia um ano e meio e está assim para ir ao interior da Bahia?". Sim, estava. Acontece. E rimos de novo: muitão!
Noite feliz! O dia seguinte se resumiu em comprar queijo, castanhas e afins para levar para o pessoal.

Minha mala se tornou algo totalmente inconveniente para quem pegaria dois ônibus, esperaria pelo segundo por uma quantidade de horas inesperada e andaria em ruelas de terra batida e cascalhos.
Na rodoviária, entre BH e a tal cidade-primeiro-destino, seriam 20-22 horas. Depois, mais seis (horas) e cinco km até a casa do vovô.
Tudo bem. Papel higiênico na mochila, pães de queijo, água, livro, Ipod: (acho) que estava pronta para o caminho.

As paradas na estrada, de fato, são muito precárias e embrulham o estômago algumas vezes. Um acidente entre Minas e Bahia nos deixou literalmente parados até que o tráfego fosse liberado por umas três horas. Sem sinal de celular, saí andandando por ali até achar um telefone público e avisar minha mãe que avisasse "meu irmão do meio" que não seria tal como deveria.

Depois de 30 horas, percorrendo os dois trechos, cheguei na cidadezinha próxima à roça e o Sérgio me esperava.
Quando viu a minha mala, balbuciou algo por alguns segundos e entendeu que não seria prático, cômodo, nem inteligente tentarmos uma moto, carona, carro ou bicleta para irmos para a roça, aquela hora: dormimos em uma vizinha-amiga, que nunca vi na vida, mas que trouxe o bom indício de que me sentiria em casa, mesmo após 12 anos e... 30 horas.

No dia seguinte, logo pela manhã, conseguimos carona de carro e fomos. Tia Zai, vovô e vovó nos esperavam de
braços abertos e mesa posta. Também entendi que comeria bem!
Conversa em dia pela manhã, à tarde, depois do almoço, participei com meu irmão do manuseio de adubos e preparação da terra.
Revi algumas pessoas que participavam das minhas férias de Julho, quando criança; conheci outras; relembrei e vi
que embora tenha mudado bastante, com a tecnologia e a energia elétrica presentes, o lugar "continua a mesma coisa"- "mentalidade Senhorita, mentalidade".

Tomei banho no rio. Andei de bicicleta. Comi frango que vivia no quintal. Demos comida aos porcos. Comi biscoito
recém assado em fogão a lenha. Vi como se faz um legítimo doce de leite no tacho. Tomei vinho de garrafa de plástico. Tomei picolé caseiro. Dormi depois do Jornal Nacional. Acordava com os galos. Vi como se planta árvore. Passei por um assentamento de sem-terra. Dei tomé na galinha para ver um de seus pintinhos-amarelos de perto: fofinho!

Compartilhei presente, passado e futuro, com meu irmão do meio. Comi bolo, tapioca e aipim. Cuzcuz.
E voltei, energizada, depois de 18 horas de viagem, entendida de como proceder em caso de paradas, mas sem saber que dali a dias deveria estar pronta para viajar de novo.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Antes do recomeço

À toa [1.Impensado, irrefletido; 2.Sem préstimo, inútil; 3.Que não exige trabalho ou esforço; fácil (...)].
Dicionário Aurélio

Foi difícil me levantar. Fosse da cama ou do sofá. Uma semana e um dia de sono e cansaço.

Sim. Não liguei o computador, desligava algumas vezes por dia meu celular e, confesso, deixei o telefone de casa tocar. Sei lá o que deu.

Não foi só a viagem longa, acho que foi uma baixa emocional mesmo. Um "finalmente" seguido de um pensamento paradoxo; algo como "mas muitos deles não vou ver mais". Muita coisa ao mesmo tempo e eu sem disposição e interesse de pensar por alguns dias.

Enfim, quando cheguei e abri a porta do meu quarto, havia fotos, frases e votos espalhados pelas paredes e móveis. Balões coloridos: era festa! "Back home!".
Eram registros de lugares por onde passei, pessoas que conheci e, nas costas da porta, retratos de nós cinco: papai, mamãe e os meninos, com uma lembrança ao passado, que até hoje cai como um ótimo conselho que dizia "férias é folga".

Meu irmão do meio dizia isso quando viajávamos, todo mês de Julho, quando meus pais falavam de trabalho ou quando meu pai se irritava (facilmente) com qualquer ligação que atendia no celular.

Sim! Estava de férias e "férias é folga". E, então, daquele modo, dormi, li, saí muito pouco de casa, tomei poucas cervejas e, somente no outro fim de semana, compartilhei uma garrafa de vinho com meus pais e meu irmão mais velho na hora do almoço. Não queria muito e estava gripada, além da preguiça inerte.

A primeira semana seguiu do jeito que quis, literalmente. No fim de semana, alguns compromissos sociais que até quis dizer "sim" e, principalmente, a um casamento. Bela e estranha a sensação de vê-la entrar de branco, com o príncipe esperando ali no altar, abençoado.
Acompanhei de longe o caminhar do relacionamento, porque primeiro estive em São Paulo, depois Tripoli. Mas nas minhas duas vindas à BH nos vimos, me relatava, estava feliz.
O dia chega. Foi bacana. Que seja...!

Depois, na Segunda-Feira, amanheci bem melhor e fui correr, absorvendo energia boa e na volta parei em uma academia: comecei pilates e atividades de verdade! Quem diria: havia outro eu em mim!

Entre uma lida, conversa, saída, novela e outra, porque não ir para a roça, visitar o Sérgio - "meu irmão do meio" - e meus avós paternos? Parei para contar e havia 12 anos que não aparecia por lá. Sim, era hora. De avião, muito confuso e somente uma vez por semana. De carro, não haveria companhia. Foi de ônibus mesmo: e que viagem!
*Não adesão à nova regra gramatical.