terça-feira, 12 de setembro de 2017

R&S e a não empatia (both ways)

Os candidatos reclamam dos recrutadores. Os recrutadores reclamam dos candidatos. Não quero entrar no que é ou está certo ou errado, afinal, como diria Marisa Monte, numa paráfrase a um amigo "(...) se tem alguém olhando não é mais verdade: vira versão".

Observo candidatos que esbravejam quando os recrutadores não dão retorno e recrutadores que dizem receber CVs demasiadamente inadequados e que, portanto, o volume não comporta o tempo e espaço por ser uma pessoa só e que não fazem por mal, apenas "não dão conta".

Todos têm seu lado, seu ponto de vista, seu argumento.

De ambos, do que sinto falta, é da empatia, da tal "humanização do processo", se é que precisávamos falar tanto disso, em se tratando de duas pessoas - o recrutador e o candidato.


O que vejo é foco no processo: um CV e uma vaga. Uma job description e um perfil em bullet points.

Fico me perguntando se o candidato quer mesmo aquela vaga ou se é a que apareceu. Se a cada vaga que ele se aplica ele muda para adequar melhor. Se ele lê sobre a empresa, se ele tenta achar amigos de amigos de amigos que eventualmente trabalham lá e que podem dar alguma força; se ele busca em plataformas que compartilham avaliações como é mesmo trabalhar ali, etc.

Me pergunto se o tal recrutador, antes de postar a vaga, se dedica em pensar, mesmo que rapidamente, na pessoa que pode exercer aquelas atribuições, contribuir, mas também aprender, ou se pensa em tags de palavras que possam trazer mais e mais aplicações para formar aquele bando de dados e se gabar de buscas futuras, mesmo sabendo que não vai voltar naquela pastinha em meio a tantas outras que tem na rede/servidor da empresa.

Na grande maioria das indústrias que estão se transformando sempre há, como um ponto alto em ser competitivo e portanto, melhor, o fato de colocar "a pessoa no centro" e então desenhar experiências, que, de um modo geral, otimizam resolução de problemas em que essa "pessoa" é o cliente - é o tal do design thinking.

Muito já se fala, então, em colocar o colaborador no centro das soluções para os problemas que ficam atribuídos ao RH. Infelizmente, pouco  - quase nunca, vai, sejamos honestos - vejo isso acontecendo nas organizações no Brasil, principalmente para estas questões de recrutamento e seleção.
Do meu ponto de vista, se o RH tem dificuldade em "fechar a vaga", o candidato é um problema importantíssimo dele, que vejo ser isolado e passa a ser objeto, quando deveria ser sujeito. Por outro lado, também acredito que o próprio candidato pode ir mudando sua postura, mesmo que não veja diferença na receptividade do recrutador. 
Se continuarmos agindo porque o outro "também age assim", a minha versão vai sempre fazer mais sentido que a sua e nós dois sairemos perdendo.

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*Não adesão à nova regra gramatical.