terça-feira, 5 de abril de 2011

As coisas não são

"Existem muito mais coisas para vir à luz do que nós percebemos". O Poder do Agora, Eckhart Tolle

Desde que os movimentos revolucionários começaram no Egito, comecei a me preocupar. Naquele país vivia uma amiga minha brasileira, a trabalho. Outros, sabendo da tensão e da possível dificuldade dela em sair, se uniram para captação de dinheiro, para comprar uma passagem - naquele momento, caríssima - para que ela voltasse. No meu mundinho-Sáo Luís casa-escritório-casa, sem muitas leituras de jornais, nem mesmo acompanhamento das teles, não me envolvi muito; até que fui a São Paulo e a primeira coisa que um grupo de pessoas me perguntou foi "E se a moda chegar na Líbia, hein?". De forma muito objetiva disse que não chegaria, devido à mentalidade diferente dos líbios e pelo o que eu tinha aprendido do direcionamento que a política colocava na sociedade, sob a justificativa religiosa: engano! Dias depois, lá estava Tripoli, a cidade na qual morei e que foi pano de fundo para um momento único da minha vida, do qual nunca vou me esquecer, irreconhecível. No Jornal pela tevê, lá estava a Praça Verde destruída. No meu e-mail, perguntas sem respostas. No meu skype, ligações encontraram celulares sem sinal. Foram dias difíceis e até hoje não entendo isto muito bem: quando foi que tudo acabou? E as pessoas? Em que medida elas "estão bem"? Mesmo "falando" com algumas, eu revejo fotos, vejo e leio jornal, e não reconheço mais. Eu saí da Líbia depois de ter ultrapassado meu limite de equilíbrio e desgaste emocional. Estava esgotada e abdiquei muito da boa sensação em deixar saudade nas pessoas que se deixaram conquistar por uma mentalidade tão diferente, que é a minha. Pelo jeito peculiar de ser do Ocidental. Pelo charme especial e único de ser Brasileira (o). Pelo compartilhamento daquele cenário e da vivência com pessoas que seguiram, assim como eu. Por apoiar e contribuir, em coragem e força, para a certeza de que sair dali era muito mais do que voltar para algum lugar. Sinto algo sobre isso tudo. Um alívio pela retirada, mas uma incerteza do que ficou. Dos Líbios que ficaram. Não merecem e não deveria ser. Achava que sabíamos disso tudo, na verdade, mas quanto mais as "coisas" acontecem, mais certo é que não sabemos "coisa" alguma.

Um comentário:

Tassia Corina disse...

Babes, realmente e muito dificil ver como a opressao e destruidora. Mas por outro lado, e bom ver o amadurecimento social pelos quais esses paises estao passando... e uma vitoria democratica! quem dera se o Brasil tivesse o mesmo engajamento politico e botasse pra fora toda essa corja corrupta. se isso acontecesse, eu ia ser a primeira a ir pra rua! Bjs

*Não adesão à nova regra gramatical.